O SABADO FOI ABOLIDO?
SITIO MASSAPE E OURICURI
LUCAS 16:16
Esse texto afirma que a Lei de Deus
vigorou apenas até a vinda de João Batista?
OBJETIVO: Através da análise do contexto bíblico, mostrar que, em Lc 16:16, Jesus não aboliu a lei de Deus, e, por isso, os salvos por ele não estão desobrigados de a praticarem.
TEXTO BÁSICO: A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de
Deus, e todo homem emprega força para entrar nele. (Lc 16:16)
INTRODUÇÃO: Nos estudos , explicamos os textos da Bíblia que mais causam polêmica,
A partir de agora, passaremos a explicar nove textos sagrados sobre a lei de Deus, cuja expressão maior é os Dez Mandamentos, a fim de provarmos que ela, a exemplo da abstinência, não foi
abolida por Cristo.
É fato que a maioria das discussões cristãs sobre a lei de Deus é marcada por extremos:
de um lado, os legalistas (a favor da lei) afirmam que a salvação é conseguida somente
pela guarda dos mandamentos; de outro, os antinomistas (contra a lei) afirmam que a salvação é conseguida sem a guarda dos mandamentos. De seu lado, o legalismo
enaltece a lei e despreza a graça; por sua vez, o antinomismo enaltece a graça e
despreza a lei. Nos extremos em que se colocaram, ambas as visões estão afastadas da
verdade do evangelho de Cristo.
A igreja do Senhor Jesus não pode se posicionar por nenhum desses extremos; ela deve buscar compreender corretamente esses pontos que fazem parte dos fundamentos da
salvação. Por essa razão, é necessário deixar as paixões de lado e assumir a posição de
equilíbrio que a Bíblia apresenta, isto é, que a salvação é adquirida única e exclusivamente
pela graça de Deus, através da fé em Jesus Cristo (At 15:11; Rm 5:15, 11:6; Ef 2:1-10;
Hb 2:9), mas que é um processo: tem início (I Pe 1:3, 18, 4:3), meio (I Pe 1:14-16, 2:1) e
fim (I Pe 1:7, 5:7, 10). Por essa razão é que Jesus dá aos salvos seu eterno poder e os
capacita a obedecer aos mandamentos de Deus (Ap 12:17, 14:12).
Como contribuição para a busca desse equilíbrio, neste estudo, analisaremos as palavras
de Jesus, em Lc 16:16, à luz do seu contexto, a fim de provarmos que o Deus da graça, o
Salvador Jesus, não invalidou ou aboliu os mandamentos divinos.
I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Os antinomistas afirmam que a lei de Deus foi abolida e usam Lc 16:16 na tentativa de
incutir na mente dos incautos que essa suposta inutilidade da lei divina teria sido feita por
Cristo. Dizem tais pessoas que, se a lei durou até João, os cristãos não lhe estão mais
sujeitos e que, hoje, a graça os isenta de qualquer responsabilidade ou obediência aos
ditames divinos. Segundo o teólogo Linder, o antinomismo... refere-se à doutrina de que
não é necessário aos cristãos pregarem ou obedecerem à lei moral do Antigo
Testamento [e por essa razão] alguns tem ensinado que uma vez que as pessoas são
justificadas pela fé em Cristo, já não tem qualquer obrigação para com a lei moral, por que Jesus os libertou. [1]
Esse ataque à lei divina é fruto de uma má aplicação das regras de interpretação das
Escrituras (hermenêutica), o que leva muitos a concluírem que Jesus estipulou o tempo
determinado para a existência da lei moral, ou seja, que sua validade não ultrapassaria o
ministério de João Batista. Essas interpretações deficientes afirmam que Guardar a Lei
era o alvo máximo do farisaísmo. Mas este não é mais um alvo válido, hoje em dia. A Lei
e os Profetas consistiam em uma fase da história da redenção, que terminou com João,
último profeta daquela era. [2]
E há quem afirme que, em Lc 16:16, Jesus apenas profetizou aquilo que ele iria fazer, na
cruz, após a morte de João, isto é, eliminar o “peso” da lei. Seja qual for a desculpa
utilizada, os antinomistas acabam por demonstrar uma espécie de fobia à santa lei de Deus e procuram reeditar argumentos inconsistentes, na vã tentativa de mascarar a
verdade, o que é impossível, porque tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se
lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar (Ec 3:14).
II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Quando Jesus declarou que A lei e os profetas duraram até João, em hipótese alguma
estava afirmando que a Lei de Deus e as profecias do Antigo Testamento haviam chegado ao fim. Quando analisamos o contexto imediato e amplo, percebemos que, desde 14:7, Lucas apresenta Jesus contando parábolas sobre a entrada dos pecadores no Reino de Deus. No capítulo 16, Cristo conta a parábola do administrador infiel, para condenar o mau uso das riquezas no seu Reino. Os fariseus murmuravam contra essa visão ética de Cristo, porque eles usavam o poder econômico com motivações erradas, isto é, davam esmolas aos pobres para serem bem-vistos pelos homens, seguros de que, agindo
assim, estavam cumprindo a Lei e os Profetas e assegurando seu lugar no Reino do Pai.
Porém, o Senhor Jesus mostrou que eles estavam enganados sobre a visão que tinham
de Deus e de seu reino (Mt 6:1). Até aquele momento, os judeus conheciam a Deus
através da Lei (especialmente o Pentateuco – Gênesis a Deuteronômio) e dos escritos
proféticos. No Antigo Testamento, estavam descritas todas as alianças que Deus fizera
com Israel, para que esse povo fosse a luz para as nações, a porta de entrada do mundo
no Reino de Deus (Is 42:5-7). Mas eles se fecharam num exclusivismo rígido, porque
interpretaram sua eleição como uma questão de merecimento, a ponto de odiarem os
outros povos. Falharam, quebraram os acordos contidos na Lei; então, Deus levantou os
profetas para denunciar a falha de Israel, chamá-lo ao arrependimento e anunciar que
faria um novo e definitivo acordo que proporcionaria ao mundo inteiro condições de acesso direto ao reino de Deus, através do Messias.
O período em que Israel teve a oportunidade de ser o instrumento de Deus para salvar o
mundo passou pela Lei (com Moisés), pelas profecias (com os Profetas) e veio até o
precursor de Cristo (João Batista), o homem que introduziu a era messiânica. Foi nesse
contexto que Jesus fez a declaração que ora analisamos. Toda a estrutura teológica do
Antigo Testamento estava a serviço do Messias.
A Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH –captou bem o sentido teológico do
texto, em Mateus 11:13: Até o tempo de João, todos os Profetas e a Lei de Moisés falaram a respeito do Reino. “O Reino” é o próprio Cristo. A Lei e os Profetas falavam de um período que estava começando ali, naquele momento, com Jesus; é ele mesmo quem explica isso: Enquanto ainda estava com vocês, eu disse que tinha de acontecer tudo o que estava escrito a meu respeito na Lei deMoisés, nos livros dos Profetas e nos Salmos (Lc 24:44 - NTLH).
Temos outro fator a favor de que Jesus, ao fazer a declaração registrada em Lc 16:16,
não estava invalidando a Lei divina: Ao transpor este texto do grego para o português, na tradução RC da Bíblia, o tradutor fez uma inserção do verbo “durar”, conjugado na terceira pessoa do plural, no pretérito perfeito do indicativo – “duraram” –, ou seja, ele
acrescentou ao texto essa forma verbal, que não consta nos originais.
Dessa forma, entendemos o versículo assim: A lei e os profetas, que foram dados aos judeus, como instrumentos de salvação para o mundo, serviram como instrumento divino para a manifestação do reino, e isso durou até João, que preparou o caminho para o Messias, e este, desde então anuncia definitiva e plena o reino de Deus (cf. Lc 4:43; Mc 1:14-15). Com isso, Cristo não está desprezando a Lei e os Profetas, mas declarando que é superior a todos os instrumentos utilizados até então por seu Pai (a Lei e os Profetas) para conduzir os pecadores ao Reino Celeste. Por isso, afirmou: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14:6).
Ele é o Senhor do Reino; a Lei e os Profetas são servos. Com ele, a porta que os judeus
haviam fechado para os gentios (cf. Lc 13:10-17,24-30, 15:11-32; Mt 23:13) agora está
aberta (Mt 7:8; Jo 10:7-9), e todo homem emprega força para entrar nele [no Reino], isto é, todos os pecadores precisam ter fé exclusiva em Cristo e coragem para vencerem
todos os obstáculos, a fim de entrarem no Reino.
Portanto, em Lc 16:16, Jesus não está abolindo a Lei de Deus; em vez disso, está
afirmando que, até aquele momento, ela era a referência para a entrada no Reino, mas
que, a partir de então, ele é a entrada e a Lei é o padrão da qualidade moral e espiritual
de vida no Reino (Rm 2:12, 14-15; Mc 12:28-31). É por essa razão que Cristo enaltece a
Lei, logo no versículo seguinte: E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til
sequer da Lei (Lc 16:17), e, na seqüência, como símbolo da vigência da Lei, exige
obediência a um dos mandamentos mais quebrados, em todos os tempos: o adultério
(Lc 16:18). Em outras ocasiões, ele exaltou a lei divina declarando que não veio destruí-
la, mas cumpri-la (Mt 5:17); enalteceu os cumpridores da lei, afirmando que serão
grandes no reino dos céus (Mt 5:19); também imprimiu mais rigor à lei, quando afirmou
que a ofensa ao próximo constitui assassinato (Mt 5:21-22) e que o olhar impuro lançado
a uma mulher constitui adultério (Mt 5:27-28).
Tivesse a lei de Deus durado somente até João, Cristo não teria mandado o jovem rico
guardar os mandamentos (Mt 19:170), não teria exigido obediência dos escribas e
fariseus (Mt 23:23) e dos seus discípulos (Jo 14:15, 21); Paulo não teria afirmado que os
salvos justificados por Deus são aqueles que estão em obediência a seus mandamentos
(Rm 2:13), que a obediência à lei é a expressão maior da verdadeira fé (Rm 3:31) e que a
lei é santa (Rm 7:21). Este apóstolo, fervoroso defensor da salvação pela graça, declara
que tinha prazer na lei de Deus (Rm 7:22). Bem doutrinado, Paulo sabia que, se não há
mais lei, então não há pecado, pois o pecado é a transgressão da lei (I Jo 3:4; Rm 4:15).
Por isso, a Lei é eterna (Sl 78:7, 111:7-8, 119:96, 160; Is 24:5), é útil no Reino (II Tm
3:16 e 17) e é válida não apenas para os judeus, mas para todos os povos (Sl 105:7; Is
51:4). Todos os escritores do Novo Testamento enalteceram a lei de Deus, porque
sabiam que ela não perdeu sua utilidade a partir de João (Rm 3:9; I Jo 2:4, 22,24; 5:2-3; II
Jo 1:6; Ap 12:17, 14:12).
CONCLUSÃO: Chegamos à inevitável conclusão de que as palavras de Jesus, em Lc 16:16
não oferecem base para o desrespeito à lei de Deus. O que o Senhor disse foi que o
Antigo Testamento (a Lei e os Profetas) atingiu seu objetivo maior na época de João
Batista, o homem que foi movido pelo Espírito Santo para apresentar o Messias ao
mundo. A partir de então, Cristo assumiu o comando da salvação da humanidade, e a Lei
passou a agir como orientadora, visando manter os salvos no Reino de Deus, até o
regresso do Senhor.
Portanto, não podemos ser antinomistas nem legalistas, pois cremos que a salvação é
pela graça, mediante a fé (Ef 2:6-7) e cremos que o salvo demonstra a salvação através
de uma vida de obediência e de boas obras (Mt 3:8; Jo 15:16). Reiteramos que a
obediência aos mandamentos não é o meio para obtermos a salvação, mas é uma
conseqüência da salvação que nos foi concedida (Hb 5:9: Mt 7:21). Por isso, os
adventistas da promessa não têm de ter envergonha de serem defensores da vigência
da Lei de Deus; antes, devem demonstrar sua fé na graça de Cristo, ter prazer de praticar
a lei do Senhor (Sl 119:77) e sempre orar: Abre os meus olhos [Senhor] para que eu
possa ver as verdades maravilhosas da tua lei (Sl 119:18).
Atos 20:7
Esse texto afirma que os apóstolos observavam o domingo como dia de adoração?
OBJETIVO: Mostrar ao estudante da palavra de Deus que, ao contrário do que muitos
declaram, At 20:7 não ensina que o dia de adoração da igreja primitiva era o primeiro dia
da semana.
TEXTO BÁSICO: No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o
pão, Paulo, que havia de seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o
discurso até meia noite. (At 20:7)
INTRODUÇÃO: Esse é um dos textos bíblicos usados pelos defensores da guarda do
primeiro dia da semana, como dia santificado para a adoração a Deus. Nesta Lição, vamos
colocar a posição daqueles que são contrários à observância do sábado como dia de
adoração e, depois, a posição que realmente o texto ensina.
O esforço dos escritores de provar a santificação do primeiro dia cai por terra, quando
analisamos os textos apresentados, nos quais nenhuma ordem expressa se acha
declarando ser o primeiro dia separado para o descanso. Nem Jesus, nem os apóstolos
fazem qualquer alusão a essa ordenança. Ela se baseia apenas na suposição de que Jesus
teria ressuscitado no primeiro dia, tornando-se daí em diante, dia de guarda.
I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Muitos escritores declaram que At 20:7 é uma evidência convincente de que a igreja do
primeiro século adotava o domingo para a adoração a Deus. Essa é a opinião do
comentarista Champlin: Esta passagem é interessante e importante, no que tange aos
primitivos hábitos dos crentes se reunirem para a sua adoração regular em um primeiro
dia da semana. Devemos observar que essa reunião ocorreu em um primeiro dia da
semana, ou domingo e que foi uma reunião formal dos cristãos, para algum propósito, o
que fica demonstrado pelo fato de que tiveram a cerimônia do partir do pão, isto é a Ceia
do Senhor. Essa modificação no dia da adoração — do sábado para o domingo — não
ocorreu por qualquer decreto de um concílio, pelo contrário, verificou-se gradualmente
na prática de todos os dias. [1] Um outro escritor, seguindo a mesmo raciocínio defendido
por Champlin, declara: Não temos nenhum registro explícito de quando nem porque os
cristãos fizeram do domingo o dia especial de seu culto a Deus; mas a inferência clara é
de que assim agiram espontaneamente, pelo fato de Jesus haver ressuscitado nesse dia.
A boa nova da ressurreição de Jesus naturalmente os levou a reunirem-se naquele
memorável ‘primeiro dia da semana’, e novamente estavam reunidos no domingo
seguinte (ver João 20:1 e 26) [2]. Alguns comentaristas ainda interpretam a expressão
“partir o pão” como sendo uma referência ao ágape (festa do amor) ou mesmo à Ceia do
Senhor, ou a ambas.
1. De acordo com a interpretação dos diversos autores, qual seria o dia de adoração da
igreja primitiva e por quê?
2. Como alguns comentaristas interpretam a expressão “partir o pão”?
II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Em sua terceira viagem missionária, Paulo chega a Éfeso, onde prega o evangelho e
opera prodígios, todos os sábados, na sinagoga. Muitos que viviam envolvidos com o
ocultismo se converteram à mensagem evangélica. Assim,... muitos dos que tinham
crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que
seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos,
e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinqüenta mil peças de prata. (At
19:19-20)
Essas conversões mexeram com as estruturas comerciais da cidade, onde havia o templo
da influente e aclamada deusa Diana. Essa deusa sustentava a rentável indústria da
idolatria, pois vários artífices faziam e vendiam imagens de prata dela. Com a queda nas
vendas, um homem chamado Demétrio realizou uma reunião com os artífices. Explicou-
lhes que os prejuízos comerciais estavam relacionados à pregação do apóstolo Paulo, que
era contrária à idolatria. Se essa pregação continuasse, o comércio e a religião dos
efésios seriam brevemente destruídos (Ef 19:27).
Demétrio provou ser um excelente agitador, pois a resposta dos artesãos foi imediata. O
discurso malicioso de Demétrio despertou a histeria da multidão:
Ouvindo isto, encheram-se de ira e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios! E
encheu-se de confusão toda a cidade. (At 19:28-29) Eles se encontraram no anfiteatro da
cidade e, por duas horas, gritaram: Grande é a Diana dos efésios! Se não fosse a
habilidade do secretário da prefeitura da cidade, que conseguiu dispersar o ajuntamento
popular, o conflito teria acabado em tragédia (At 19:35-40).
Quando terminou aquela confusão, Paulo chamou os discípulos e lhes deu muitos
conselhos. Depois, despediu-se deles e seguiu para a província da Macedônia, região da
Europa, ao norte da Grécia. Ele percorreu aquelas terras, fortalecendo os discípulos com
muitas exortações. Depois dessas viagens macedônicas, Paulo dirigiu-se para a Grécia, e,
provavelmente, em Corinto, ele se demorou três meses, enquanto esperava a estação
apropriada para embarcar rumo à Síria. Mas, quando estava pronto para viajar, soube que
havia uma conspiração por parte dos judeus contra ele. Na última hora, Paulo decidiu
alterar o itinerário: determinou voltar pela Macedônia (At 20:2-3)
Paulo viaja para Trôade – porto que ficava a oeste da atual Turquia. Nessa cidade,
permaneceu sete dias. Stott observa que Lucas relata apenas um acontecimento durante
essa semana em Trôade: o sono, a queda, a morte e a ressurreição dramática de um
jovem chamado Êutico. Mas a história é também instrutiva na área do culto cristão
primitivo, porque aconteceu no contexto de um culto. [3]
Ele diz isso por causa dessa afirmação de Lucas:
... no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que
havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até a meia-noite. Esse
“primeiro dia da semana” se referia ao sábado à noite ou ao domingo à noite? A
interpretação desse “primeiro dia” depende da maneira como pensamos que Lucas
contava o dia: como os judeus (a partir do pôr do sol) ou como os romanos (a partir da
meia-noite), observa o mesmo Stott. A NTLH optou pelo sábado à noite:
No sábado à noite nós nos reunimos com os irmãos para partir o pão. Paulo falou nessa
reunião e continuou falando até a meia-noite, pois ia viajar no dia seguinte. No texto
grego, porém, não existe nenhuma expressão que possa ser traduzida por “primeiro dia
da semana”. No Novo Testamento Interlinear, que traduz, rigorosamente, palavra por
palavra, do grego para o nosso idioma, o versículo encontra-se traduzido da seguinte
maneira: Em, porém, o um dos sábados, tendo conduzido juntos nós quebrar pão, o Paulo
discursava-lhe, estando para ir-se de no sobre a manhã, estendeu ao lado e a palavra até
meia noite [4]. Uma tradução correta do texto grego seria:
No sábado, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir
viagem no dia imediato exortava-os.
Seguindo essa tradução, concluímos que o culto em Trôade começou durante o sábado,
isto é, antes do pôr-do-sol, e não no domingo à noite, e prolongou-se até a meia-noite.
Um outro fato grave que a tradução do Novo Testamento Interlinear deixa claro é que as
versões RA e RC traduziram erroneamente o versículo. A NTLH seria perfeita, se não
tivesse acrescentado, por conta própria, o “à noite”, logo depois da expressão “No
sábado”. Obviamente, esses problemas de tradução não são produtos de ignorância ou
descuido, pois os que fazem parte das equipes de tradução – que são contra a
observância do sábado, como dia de adoração e descanso - dominam, mais que qualquer
outra pessoa, a língua grega.
Ainda há outra questão que merece explicação. Trata-se da expressão “partir o pão”
que é usada, como vimos no comentário anterior, como referência à Ceia do Senhor.
Essa expressão era usada, naqueles dias, para se referir a uma refeição comum (At 2:46).
Pelo avanço da hora, naquela noite, parece-nos mais tratar-se realmente de uma refeição
comum. Dois outros textos paralelos utilizados pelos defensores do domingo como dia de
adoração a Deus são Jo 20:26 e I Co 16:2. O primeiro texto diz:
Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles.
Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja
convosco!
Quem disse que esse texto descreve uma reunião de adoração? O que eles estavam
fazendo? Estavam se protegendo ou se escondendo dos judeus. O v. 21 deixa isso claro:
Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde
estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes:
Paz seja convosco!
O outro texto, o de I Co 16:2, onde lemos:
... no primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua
prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for também não
serve para defender o domingo como dia de adoração. Ao recorrermos novamente ao
Novo Testamento Interlinear veremos que, nessa passagem, também há problema nas
traduções mais conhecidas: Conforme um de sábado cada um de vós ao lado de si mesmo coloque entesourado o que quer que se seja encaminhado para que não, quando que vá, então coletas venham ocorrer.
No texto grego, não aparece nenhuma expressão que possa ser traduzido por “primeiro
dia da semana” ou “todos os domingos” (NTLH). Aparece, sim, a palavra grega
sabatou (Verificar Transliteração), cujo primeiro significado alistado no Léxico do Novo
Testamento Grego/Português é “sábado, o sétimo dia da semana, considerado sagrado
pelos judeus “[5] A expressão “em casa” também não consta no texto grego. Logo, a
tradução mais apropriada para o versículo seria: Todos os sábados, cada um de vós
ponha de parte o que puder ajuntar.
Fica claro, portanto, que, realmente, no Novo Testamento, nada consta sobre o domingo
como dia de repouso. Há, todavia, inúmeras informações de que a igreja reunia-se aos
sábados para adoração. O escritor batista Isaltino Coelho Filho, ao comentar sobre o
quarto mandamento, honestamente admite isto:
... embora estejamos falando do domingo como um dia reservado para o culto
comunitário, entre os cristãos, não temos um mandamento específico, no Novo
Testamento, para adorar a Deus, num dia específico ´´ [6].
Atos dos Apóstolos, especialmente, registra que os crentes, quer fossem judeus, quer
fossem gentios, tinham o hábito de se reunirem para adoração ou aprendizado sempre
aos sábados: Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à sinagoga, assentaram-se. (At 13:14) Ao saírem eles, rogaram-lhes que, no sábado seguinte, lhes falassem estas mesmas palavras. (At 13:42) No sábado seguinte, afluiu quase toda a
cidade para ouvir a palavra de Deus. (At 13:44) Atos 16:13 - No sábado, saímos da cidade
para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos,
falamos às mulheres que para ali tinham concorrido. - Paulo, segundo o seu costume, foi
procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras. Atos 17:2 18:4.
Atos 18:4 e 11“Ele discutia todos os sábados na sinagoga, e persuadia a judeus e gregos. E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
1 ano = 52 sábados
6 meses = 26 sábados
Total = 78 sábados consecutivos.
Diante de tantas evidências internas, é mais lógico concluir que o dia de culto da
igreja do primeiro século era o sétimo e não o primeiro da semana.
CONCLUSÃO: É maravilhoso quando a Bíblia é estudada à luz da verdade. Dizemos isto,
porque ela mesma nos avisa que muitos a estudam para contradizê-la (Rm 16:17-18; II
Tm 4:3-4). Nesta lição, conhecemos os argumentos contrários à verdade, mas pudemos
saber que a verdade surge absoluta quando comparada com os ensinos contraditórios.
Agradeçamos a Deus pela luz que temos da verdade e que ela continue iluminando o
nosso caminho na vida cristã. Continue estudando e aprendendo com a Bíblia.
COLOSSENSES 2:14
Esse texto prova que a guarda do sábado foi cancelada na cruz de Cristo?
OBJETIVO: Mostrar o real sentido do que Paulo diz, em Cl 2:14, para que
seja fortalecido na fé, através da prática dessa verdade.
TEXTO BÁSICO: ... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava
de ordenanças, o qual nos era prejudicial removeu-o inteiramente, encravando-o na
cruz. (Cl 2:14)
INTRODUÇÃO: Dando continuidade à nossa tarefa de explicar corretamente alguns textos
sagrados referentes às doutrinas bíblicas, analisaremos Cl 2:14, texto que, segundo alguns cristãos, anula a guarda do sábado no sétimo dia. Ao estudá-lo, dentro do seu contexto, entretanto, constataremos que o quarto mandamento da lei de Deus não foi cancelado na cruz de Cristo. Tal verdade já ficou evidenciada na lição número 6, quando vimos o tratamento
respeitoso que o Mestre Jesus e seus discípulos deram a esse dia, tratamento este que
deve ser imitado por todos os cristãos na face da terra, a fim de que tenhamos cumprida
a promessa que nos diz: Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o
que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e
me manifestarei a ele. (Jo 14:21)
I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Alguns cristãos interpretam Cl 2:14 como uma declaração geral de Paulo a respeito dos
efeitos da obra de Cristo na cruz, em relação à Lei, ou seja, com seu sacrifício, o Senhor
Jesus teria cancelado todas as ordenanças, todos os rituais, todos os preceitos que eram
como sombra da obra gloriosa que realizara no Calvário, incluindo, nesse cancelamento,
preceitos da Lei Moral, os Dez Mandamentos, especialmente a guarda do sábado no
sétimo dia da semana. Em razão desse suposto cancelamento, os cristãos ficaram
desobrigados de se subordinarem a esses preceitos divinos. Essas pessoas entendem
que Cristo anulou a Lei, e com isso, trouxe a liberdade tão sonhada e esperada aos seres
humanos; afirmam, ainda, que o ministério da graça manifestado por Jesus é
incompatível com qualquer tipo de compromisso com a Lei de Deus, que chamam de “lei
de Moisés”.
Outro fator a ser considerado é o levantado sobre a Lei Moral e a Lei Cerimonial. É
verdade que nem uma nem outra lei recebe escrituristicamente tais designações, dentro
da Bíblia Sagrada; entretanto, é bom lembrarmos que o fato de isto não aparecer na
forma escrita, não invalida sua essência, pois o princípio claro nos mandamentos escritos
por Deus, nas tábuas de pedra, são princípios morais e eternos, ao passo que grande
parte dos escritos que Deus mandou Moisés escrever contem princípios cerimoniais,
militares, civis, ou seja, preceitos circunstanciais, transitórios, etc. Estamos convictos de
que nenhum cristão fiel às Escrituras se oporia a veracidade da doutrina da Trindade pelo
simples fato de tal nomenclatura não fazer parte da escrita bíblica; porém, o que importa,
em ambos os casos, é a essência da qual derivam as suas definições.
A verdade por trás de todo esforço empreendido no sentido de desobrigar os cristãos do
compromisso integral para com os Dez Mandamentos de Deus, afirmados por Cristo na
Nova Aliança visa tão somente enfraquecer um único desses preceitos: a vigência do
santo sábado do Senhor como um dia instituído por ele para que suas criaturas, em
todos os tempos e lugares tenham um dia separado para adoração, para se recordarem
de seu Criador e reconhecerem nele o Senhor Libertador, absoluto na história e digno de
ser obedecido por seus servos, por meio da graça de Cristo. Entretanto, apesar dos
ventos contrários, a graça de Cristo faz que nossos corações anelem pela Lei de Deus e
nosso interior suspire por sua vontade, verdade esta que levou o salmista, séculos atrás,
a declarar: Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom
Espírito por terreno plano (Sl 143:10); e que moveu o apóstolo João a dizer: Porque este
é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não
são penosos (I Jo 5:3).
II – A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Antes da interpretação propriamente dita, é importante conhecermos o contexto geral da
epístola aos Colossenses, cuja autoria é atribuída ao apóstolo Paulo, pela maioria dos
teólogos. Cria-se, todavia, desde os tempos mais antigos, que esta epístola havia sido
escrita em Roma, com as epístolas aos Filipenses, Filemom, I e II Timóteo e Tito, no
período em que o apóstolo Paulo esteve aprisionado naquela cidade; entretanto, a linha
de pensamento que hoje prevalece entre os estudiosos é a de que tais epístolas possam
ter sido escritas por Paulo em uma de suas prisões, como no caso de Cesaréia ou Éfeso.
Algumas passagens nesta carta (Cl 1:4, 2:1) deixam evidente que Paulo não conhecia a
maioria dos crentes de Colosso, o que dificilmente o credenciaria para ser reconhecido
como o fundado da igreja naquela localidade. Colosso era uma cidade que pertencia à
província romana da Ásia e é possível que o evangelho a tenha alcançado durante o
período em que o apóstolo Paulo esteve evangelizando a cidade de Éfeso (At 19:10),
fazendo, possivelmente, com que, através de Epafras, que era cidadão colossense, a
mensagem de Cristo chegasse à cidade de Colosso (Cl 1:7, 4:12).
Se retrocedermos ao cenário da religiosidade cristã, nos tempos do apóstolo Paulo,
iremos encontrá-lo envolvido, dividido e bombardeado por algumas correntes destoantes
do genuíno evangelho de Cristo, que procuravam encontrar simpatizantes para suas
teorias. A jovem igreja que se instalara na cidade de Colosso, assim como as igrejas da
Galáxia, de Éfeso e Roma, dentre outras, muito sofria pelas divergências internas
promovidas por judeus recém-convertidos ao Cristianismo, mas com enormes
dificuldades em se desligarem completamente do antigo modo de vida ritualista que
mantinham no judaísmo. Como se isto não bastasse, tentavam impor o mesmo modo de
vida aos cristãos daquela localidade.
Hoje, temos séculos de Cristianismo, que nos proporcionaram experiência e maturidade
para fazermos distinção clara entre uma coisa e outra; infelizmente, os irmãos de
Colossos, não podendo desfrutar deste mesmo benefício, deixaram-se enredar por
práticas judaicas que não tinham lugar no Cristianismo. Entre as práticas que os judeus
novos convertidos lutavam por introduzir ao Cristianismo destacava-se a observância da
lei cerimonial, notadamente os dias de festa, como a páscoa, o pentecostes, o dia da
expiação, a festa dos tabernáculos, da lua nova e outras celebrações. Naturalmente, o
apóstolo Paulo ensinou à igreja de Colosso que tais ordenanças e festividades foram
riscadas ou cravadas na cruz, por Cristo, e que, ali, cessaram, automaticamente, os tipos
de "sombras" que para ele apontavam.
É importante, nesse contexto, sabermos que os colossenses também eram
profundamente assediados por mestres do gnosticismo (crença baseada no
conhecimento como fonte de libertação espiritual – Cl 2:8); haviam absorvido práticas
cerimoniais do judaísmo, como as doutrinas da alimentação, das festas de dias, etc. e
radicalizado esses preceitos, através da abstenção absoluta de todos os tipos de carne e
da inércia absoluta nos dias de sábados festivos e no sábado do Senhor. Isso os levou
para um ascetismo rigoroso, por considerarem o isolamento uma das melhores formas
de manterem sua suposta pureza espiritual. Com isso, criaram uma forma de legalismo
(crença na libertação espiritual através das obras da lei) mais severo que o praticado
pelos fariseus. Como isso não bastasse, através de vãs filosofias, colocaram Cristo na
mesma igualdade dos anjos (Cl 2:18); criaram o culto tendo anjos como mediadores dos
homens (Cl 2:18) e incluíram essas idéias como parte do evangelho de Cristo (Cl 2:20-
23). Em outras palavras, os mestres do erro, os gnósticos de Colosso, estavam levando o
Senhor da Igreja, Jesus Cristo, à insignificância.
Diante de tamanho perigo, Paulo escreveu aos colossenses para protegê-los dessa
heresia mortal, e o fez com oração (Cl 1:3-14); aplicou-lhes a forte doutrina sobre o
poder e o senhorio absolutos de Cristo na igreja (Cl 1:15-27); deu-lhes o seu próprio
exemplo de vida, como apóstolo (1:24 a 2:5), e explicou-lhes os valores espirituais que
devem modelar a vida cristã (Cl 2:6–4:6). É nesse contexto geral que devemos
compreender o texto que ora estudamos. Desta forma, ao afirmar: ... tendo cancelado o
escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz, Paulo não está dizendo que a
Lei dos Dez Mandamentos fora abolida, mas está ensinando que a morte substitutiva de
Jesus foi suficiente para pagar a nossa dívida pecaminosa. Assim sendo, os que, pela fé,
acreditam na eficácia do sacrifício de Cristo, têm sua dívida cancelada, isto é, paga diante
de Deus, e estão aptos a desfrutarem de uma nova vida, resultante da graça de Cristo.
Reiteramos que o texto de Cl 2:14 não ensina que a Lei de Deus foi encravada na cruz, e,
sim, que a dívida de todos os pecadores arrependidos fora perdoada e a justificação de
todos aqueles que, pela fé em Jesus, alcançaram a comunhão com o Pai fora
proporcionada. Consideramos cristalino o que Paulo está ensinando: ele não está dizendo
que a cruz de Cristo inutilizou a Lei de Deus, mas, sim, que, na cruz, o Senhor
proporcionou o perdão dos pecados para a humanidade. Com isso, o apóstolo está dando
uma dura resposta aos judeus legalistas e aos gnósticos libertinos, afirmando-lhes que a
rigidez cerimonial, a auto-justificação proveniente das obras da lei não pagam a dívida
pecaminosa que a lei evidencia, e, neste sentido, ela é contra nós (Rm 7:7; Cl 2:14). Por
essa razão, afirma Paulo, somente Cristo tem poder para cancelar essa dívida, e o fez na
cruz.
Na mente do apóstolo, em nenhum momento existiu a idéia de que a cruz de Cristo
tenha anulado a Lei Moral de Deus ou tenha extraído dessa lei o santo sábado; ele
mesmo disse: Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes,
confirmamos a lei (Rm 3:31). O que ele afirma, em Cl 2:14, é que a cruz de Cristo anulou
as leis cerimoniais que regiam os sacrifícios de animais, “sombras” do sacrifício da cruz, e
as inúteis posturas legalistas de auto-justificação baseadas na Lei Moral, praticadas pelos
mestres do erro.
Portanto, a crença comumente difundida de que o apóstolo Paulo ensinou, em Cl 2:14,
que o sábado não mais fazia parte das obrigações dos cristãos é totalmente
despropositada. Conforme Carlyle B. Haynes Supõem alguns que o apóstolo Paulo se
referia à mudança do sábado quando escreveu aos colossenses: Ninguém vos julgue por
causa dos dias de festas, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas
futuras, mas o corpo é de Cristo. O sistema cerimonial do Velho Testamento possuía
muitas festividades, dias santificados e sábados anuais. Este sistema, imposto até ao
tempo da correção, havia expirado com Cristo, para quem apontava. O crente em Cristo
não devia, portanto, voltar a esses tipos e sombras. [1]
Desta forma, insistimos em que o texto refere-se a questões espirituais que são
consideradas sombras das coisas futuras, o que, obviamente, não diz respeito ao sábado
do Senhor, que, segundo as Escrituras, deve ser guardado no sétimo dia da semana e
não tem um direcionamento prioritariamente para o futuro, como os demais sábados das
festividades judaicas, uma vez que, ao contrário destes, o sábado do Senhor, além de
restaurar o vigor físico tem a finalidade de fazer que os adoradores de Deus, em todos
os tempos tenham sua visão voltada para o passado, para a obra divina da Criação e da
Redenção concedida aos nossos antepassados (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15).
A cada sétimo dia, portanto, o povo de Deus, de quaisquer tempo e nação, reúne-se para
recordar e celebrar o poder criador e redentor do Deus Todo-Poderoso. CONCLUSÃO:
Conscientizados de que o texto de Cl 2:14 não cancela a Lei de Deus, e, por assim dizer,
não abole o santo sábado do Senhor, mantenhamos nossa fé firmada na verdade, e, a
cada sétimo dia da semana, façamos do sábado momentos em que possamos nos
apresentar diante do Senhor com um coração adorador disposto a reconhecer que ele é
Criador de toda existência, é Deus Libertador das nossas vidas e Soberano sobre toda a
criação: De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu criador atribuirei a justiça. (Jó
36:3).
LIÇÃO 09: GÁLATAS 3:10
Esse texto ensina que quem observa a Lei
de Deus está debaixo de maldição?
Autor: Pastor Genilson Soares da Silva
Lição Bíblica 273, sábado, 26 de novembro de 2005
OBJETIVO: Mostrar que a parte moral da lei do Senhor continua válida para o crente de
hoje, podendo ser obedecida somente pela graça, que, além de nos salvar, nos instrui a
viver uma vida prudente e dedicada a Deus.
TEXTO BÁSICO: Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição;
porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas
no Livro da lei, para praticá-las. (Gl 3:10)
INTRODUÇÃO: Assim que Paulo pregou o evangelho recebido pela revelação de Jesus
Cristo (Gl 12) aos Gálatas houve entusiasmada aceitação das verdades pregadas. A sua
vida cristã estava avançando e crescendo, dia após dia. Eles corriam bem (Gl 5:7) a
carreira que lhes estava proposta, olhando firmemente para Jesus, o qual se entregou a
si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a
vontade de nosso Deus e Pai (Gl 1:4), por meio de quem, portanto, a vida cristã começa
e se aperfeiçoa (Hb 12:2). De repente, os gálatas pararam de prosseguir para o alvo, para
o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3:14). O que aconteceu?
Aconteceu que apareceram os judaizantes pregando um evangelho diferente, cuja ênfase
principal era a circuncisão, uma prática vista por Paulo, desde o período da sua conversão,
como “refugo” ou “esterco” – skubalon, no grego (Fp 3:1-8). Você sabe o que é isso?
Rienecker e Rogers lhe respondem com a seguinte afirmação: Refere-se ao excremento
humano, a porção do alimento rejeitada pelo organismo como não nutritiva, ou refere-se
a lixo ou restos de uma festa, a comida que caia da mesa [1]
I - A INTERPRETAÇÃO ERRADA
O texto que nos serve de base para este estudo (Gl 3:10) é bastante utilizado por
estudiosos para defenderem a posição teológica de que a lei de Deus – inclusive as
partes morais – está limitada ao tempo antes da vinda de Cristo e de que, por isso, já não
é mais diretamente aplicável aos crentes de hoje. Eles sustentam que a lei do Senhor é
uma unidade indivisível e inseparável, não podendo ser separada em aspectos morais,
civis e rituais, pois esse sistema não está claramente apresentado nas Escrituras
Sagrados. Assim, se alguém Concorda que Cristo colocou de lado a lei cerimonial por
meio da sua morte e ressurreição substitutivas, então consequentemente os cristãos
são desculpados de toda a lei, visto que ela é uma unidade indivisível. [2] Na lista de
textos usados para defender essa posição encontra-se o que baseia a nossa lição, que
será interpretado corretamente, na seqüência.
II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Aos lermos a epístola aos Gálatas, ficamos impressionados com o palavreado raivoso,
vigoroso, urgente, enérgico, corretivo, cortante do apóstolo, que, já de início, expressa,
com franqueza, sua dolorosa surpresa e seu espanto: Admira-me que estejais passando
tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual
não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de
Cristo. (Gl 1:6-7) Às vezes, é preciso firmeza para se defender da corrupção a verdade do
evangelho! O que estava em jogo não era uma opinião pessoal do apóstolo, mas o plano
de salvação para os gentios. Após justificar e defender a legitimidade de sua autoridade e
sua proclamação, que vinham sendo duramente questionadas pelos judaizantes (Gl
1:10–2:14), Paulo passou a explicar firmemente a autêntica doutrina da justificação (Gl
3:1–4:11) aos Gálatas, que estavam completamente envolvidos com as palavras dos
judaizantes. Ele não queria que as igrejas voltassem aos rudimentos do judaísmo, de
onde já haviam saído. Foi nesse contexto que apareceu a afirmação: Todos quantos, pois,
são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele
que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las. (Gl 3:10)
Nesse capítulo, para muitos, o pensamento de Paulo acerca da lei é difícil de ser
entendido, porque ele parece fazer uma série de afirmações contraditórias sobre a lei de
Deus, deixando subtendido que o povo de Deus não tem mais obrigação de obedecer-
lhe. As aparentes contradições são superadas quando entendemos o significado da
palavra “lei”. A palavra “lei”, que aparece quinze vezes nesse terceiro capítulo – em toda a
epístola há 33 ocorrências –, foi traduzida do termo grego nomos, que, nas epístolas
paulinas, possui significado diversificado. Por exemplo, em I Co 14:21, o termo nomos [3]
é usado em referência ao livro do profeta Isaías 28:1-11: Na lei está escrito: Falarei a este
povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me
ouvirão, diz o Senhor.
Em Romanos 7:21 – Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus
–, nomos é uma alusão à lei moral de Deus, isto é, os dez mandamentos. Já na parte final
de Rm 3:21 – Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o
testemunho da Lei e dos Profetas –, nomos aponta para o Pentateuco, os cinco primeiros
livros do Antigo Testamento. Vemos, portanto, que a palavra grega é sempre a mesma,
nos três textos – nomos –, mas o sentido varia de um texto para outro. Em cada texto,
nomos só aceita um dos significados possíveis, determinado pelo contexto. Quando esse
princípio é ignorado, a interpretação do texto fica gravemente comprometida. Isso se
aplica à epístola aos Gálatas, em que o apóstolo está engajado num debate teológico
com os judaizantes, defensores da circuncisão, que é mencionada sete vezes na carta (Gl
2:7, 8, 9,12, 5:6, 11, 6:15) como necessária ao crente para ser justificado diante de Deus.
Assim sendo, pode se concluir que o termo “nomos” é, sem dúvida, uma referência a
aspectos cerimoniais do judaísmo, que consistiam de ordenanças e mandamentos que
apontavam para o trabalho redentor de Jesus (Cl 2:11-13; Ef 2:14-15). Os judaizantes
estavam defendendo que a justificação era alcançada pela observância dessas
prescrições. Trata-se de uma interpretação equivocada, pois, até mesmo no Antigo
Testamento, a justificação era alcançada não pela “obediência”, mas pela “confiança”: É o
caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça (Gl 3:6). Ao citar
Abraão, o mais ilustrativo e eloqüente exemplo de justificação pela fé, Paulo deixa claro
que nenhum dos mandamentos de Deus, quer fossem rituais quer fossem morais teve
o propósito de produzir justificação ou libertação. O exemplo mais convincente encontra-
se em Êx 20. A salvação veio aos israelitas antes da revelação do conjunto de orientações
e prescrições – rituais, civis e morais – de Deus (Êx 20–24). A lei foi dada a um povo já
resgatado da escravidão. Eles não tiveram de obedecer aos mandamentos - rituais, civis
e morais - para serem justificados ou resgatados da escravidão egípcia (Dt 7:7-8).
Qual era, então, a razão dos preceitos divinos? Os mandamentos – rituais, civis e morais
– não eram instrumento de justificação, mas de santificação. O próprio Deus deixa isso
claro para Moisés, no alto do monte Sinai: Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a
minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar
dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes
e nação santa. (Êx 19:6) Deus queria que o povo liberto da opressão se tornasse uma
nação santa. Então, em sua lei, o Senhor registrou as orientações detalhadas para facilitar
aos israelitas esse crescimento em santidade. O alerta de Paulo aos judaizantes consistia
em mostrar-lhes que qualquer tentativa de obter a justificação ou salvação por meio da
obediência aos cerimoniais judaicos resultaria em fracasso e maldição, e não em
salvação, porque as exigências cerimoniais não foram estabelecidas com o propósito de
justificar ninguém perante Deus: E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante
de Deus, porque o justo viverá pela fé. (Gl 3:11) Além do mais, Paulo mostra uma outra
grave falha no ensino dessas pessoas. Elas estavam, aparentemente, ensinando que os
cristãos precisavam obedecer apenas a alguns aspectos cerimoniais (principalmente, a
circuncisão), e não a todas as coisas escritas no Livro da lei.
Paulo desmascara a falsidade dos judaizantes, dizendo:
Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De
novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a
lei. (Gl 5:2-3) Era tudo ou nada. Não havia a possibilidade de selecionar o que deveria ser
obedecido. Portanto, não adiantaria os gálatas dizerem: “Estamos aderindo somente à
circuncisão”, pois o alerta de Paulo é: ... um pouco de fermento leveda toda a massa (Gl
5:9).
Na seqüência, o apóstolo, explica que aqueles aspectos cerimoniais da legislação
serviram de aio [paidagogos] para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos
justificados por fé (Gl 3:24). Ao explicar o significado da palavra “aio”, a Chave Lingüística
do Novo Testamento Grego afirma: ... guardião, tutor. Era um escravo empregado por
famílias gregas e romanas para se encarregar dos meninos entre os 6 e 16 anos, cuidado
de seu comportamento e acompanhando-lo sem que saísse de casa, indo, por exemplo,
à escola. [4] Apesar de ser filho do senhor, o menino não desfrutava dos privilégios de
herdeiro: Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere
de escravo, posto que seja ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao
tempo predeterminado pelo pai. (Gl 4:1-2) O pedagogo – aio – era quase dono da vida da
criança. Todavia, quando atingia a maioridade, ele se libertava dessa severa supervisão
quase onipresente. Jamais teria saudade daquele período de menoridade, pois, à época,
mesmo sendo dono de tudo, era tratado como escravo. Usando a expressão assim
também nós, o apóstolo passa a aplicar essa inteligente ilustração à situação vivida pelos
gálatas, dizendo: ... quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo
dos primeiros rudimentos do mundo; mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei,
a fim de recebermos a adoção de filhos. (Gl 4:3-5)
Antes da encarnação de Cristo, todos estavam sujeitos à supervisão do aio, a lei. Uma vez
que era um período de menoridade e imaturidade espiritual, todos tinham de obedecer
as suas diversas prescrições e rudimentos. Com a vinda de Cristo, a supervisão terminou.
Não estamos mais sob os cuidados de um pedagogo: Mas, depois que a fé veio, já não
estamos debaixo de aio (Gl 3.25).
Alcançamos a nossa maioridade espiritual! Agora, somos filhos de Deus, como está
escrito: Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de
Deus por Cristo. (Gl 4:6-7) O que os crentes das igrejas da Galácia estavam fazendo?
Estavam trocando a maioridade pela menoridade; estavam voltando à infância espiritual.
Abismado com a decisão dos gálatas, o apóstolo perguntou, nervoso e perplexo: ... como
tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?
(Gl 4:9-11). Na parte final da carta, depois de exortar os gálatas com estas palavras: Para
a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de
novo, a jugo de escravidão (Gl 5:1),
o apóstolo Paulo ensina que a liberdade cristã, por sua vez, não deveria ser confundida
com libertinagem ou licenciosidade (Gl 5:13). Essas últimas palavras do apóstolo, na
Epístola aos Gálatas são oportunas e prudentes, uma vez que a doutrina da justificação
somente pela fé pode ser perigosa e prejudicial, se for entendia e aplicada de maneira
incorreta. Esse, portanto, não é um problema exclusivo dos gálatas. Ainda hoje, muitos
cristãos correm o risco de abusar da graça de Jesus. A epístola de Judas refere-se a
homens (...) que convertem em dissolução a graça de Deus (Jd 1:4). Eles, de acordo a
NTLH torciam a mensagem a respeito da graça do nosso Deus a fim de arranjar uma
desculpa para a sua vida imoral. Em todas as suas epístolas, o apóstolo Paulo sempre
deixou claro que a graça não autoriza nem permite abusos, a exemplo dos seguintes
questionamentos que ele lança aos fiéis: Que diremos, pois? Permaneceremos no
pecado, para que seja a graça mais abundante? (...) Havemos de pecar porque estamos
debaixo da graça? (Rm 6:1, 15). Ele mesmo responde, categoricamente: de modo
nenhum. A graça, portanto, não nos oferece uma licença especial para vivermos na
prática do pecado. Pois, além de salvar, a graça educa: Porquanto a graça de Deus se
manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a
impiedade e as paixões mundanas vivamos, no presente século, sensata, justa e
piedosamente. (Tt 2.12) “Educando-nos” foi traduzido do verbo grego paideuo que,
segundo o Léxico do Novo Testamento (REFERÊNCIA?), significa treinar, instruir, ensinar
com rigor. A graça de Deus, portanto, está intimamente associada à disciplina,
treinamento e discipulado rigorosos. Trata-se de uma definição bastante diferente do que
tem-se pregado nas igrejas de hoje. Não se deve supor que a graça do NT seja diferente
da graça do AT. A graça de Deus, em ambos os Testamentos das Escrituras Sagradas,
possui a mesma definição rigorosa, porque o Deus que a instituiu é o mesmo em seu
caráter e natureza. As exigências de santidade para os dois povos (Israel, no AT, e a
Igreja, no NT) são as mesmas. Para ambos, está escrito: Sede santos, porque eu sou
santo (Lv 20:7; I Pe 1:16).
E, nesse processo de santificação pessoal, a lei do Senhor (os aspectos morais) tem uma
função primordial, pois ela contém os valores éticos e morais de quem a institui. Sob as
duas alianças, o Senhor tem um único instrumento de santificação: os seus
mandamentos, que refletem a perfeita beleza do seu caráter. As leis rituais e civis foram
anuladas na cruz de Cristo, mas as morais receberam mais esclarecimento e
aprofundamento na pessoa e no ensino de Cristo, que disse: Não penseis que vim
revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. (Mt 5:17) Esse
texto de Mateus é segundo estudiosos da lingüística, traduzido de maneira imprecisa e
confusa. Eles admitem que a palavra traduzida para o português por “cumprir” é plerosai,
que pode também ser traduzida por “ratificar”, “confirmar”, “validar”, “autenticar”,
“aumentar”, “completar”, “preencher” de modo absoluto. Se você substituir verbo
“cumprir” por “confirmar”, por exemplo, a frase de Jesus terá mais clareza e coerência?
Claro que sim. O verbo “cumprir” contradiz o contexto (Mt 5:18-20), em que Jesus
ensina, de modo claro, a permanência e a obrigatoriedade da lei para os que fazem parte
do reino.
Portanto, Deus espera que lhe prestemos obediência, mas não espera uma obediência
forçada. Ele quer obediência motivada por gratidão, como afirma Yancey: Se
compreendermos o que Cristo fez por nós, então certamente por gratidão lutaremos
para viver de maneira digna de tão grande amor. Lutaremos por santidade não para fazer
Deus nos amar, mas porque ele já nos ama. [5] Não obedecemos aos mandamentos de
Deus (apenas os seus aspectos morais) para alcançarmos justificação. Já fomos
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus
(Rm 3:24). É por gratidão, somente por gratidão que guardamos os seus mandamentos
e fazemos diante dele o que lhe é agradável (I Jo 3:22). CONCLUSÃO: Quem observa a
justa e santa lei do Senhor não está debaixo de maldição, pois ela é perfeita (Dt 32:4; Sl
19:7; Tg 1:25) assim como é perfeito o seu Legislador (Mt 5:48). Assim, o crente em
Jesus tem prazer interior em cumprir e ensinar a lei do Senhor gravada em seu coração
Sl 1.1, 2, Jr 31.33, Rm 7:22), exatamente porque amam profundamente a Deus que os
libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no
qual temos a redenção, a remissão dos pecados. (Cl 1:13-14
LIÇÃO 13: MARCOS 16:9
Este texto ensina que a ressurreição de Cristo alterou o dia de descanso do sábado para
o domingo?
Autor: Pastor Genésio Mendes
Lição Bíblica 273, sábado, 24 de dezembro de 2005
OBJETIVO: Levar o estudante da Palavra a compreender que o texto de Mc 16:9 não
autoriza os cristãos a mudarem o dia de descanso, o sétimo dia, para o primeiro dia da
semana, o domingo.
TEXTO BÁSICO: Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios. (Mc 16:9)
INTRODUÇÃO: Desde a lição de número 6, temos visto como alguns intérpretes, no
desejo de afirmarem que a salvação é pela maravilhosa graça de Deus,
desnecessariamente tentam desqualificar a lei de Deus, e, para concretizarem esse
intento, na maioria das vezes, isolam os textos de seus contextos, aplicando regras
hermenêuticas que lhes sejam convenientes, a fim de obterem o resultado que mais
agrada-lhes. Nessa postura, encontramos comentaristas bíblicos usando Marcos 16:9
para provar que a ressurreição de Jesus ocorreu no primeiro dia da semana, e, com isso,
ter um pretexto para justificar seu desvio histórico sobre o dia determinado para a guarda
do quarto mandamento da Lei de Deus. Porém, quando interpretarmos Marcos 16:9,
dentro do seu contexto, inevitavelmente, descobrimos que o Senhor Jesus não
ressuscitou no primeiro dia da semana.
II - A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Quando lemos as explicações teológicas dos defensores da mudança do dia de descanso,
percebemos o quanto eles forçam o texto sagrado até que obtenham um sentido que
não corresponde ao que foi inspirado pelo Espírito Santo, o autor da Bíblia. O texto que
ora estudamos é um exemplo: afirma-se que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou na
manhã de domingo com a clara intenção de respaldar a guarda desse dia como o dia do
Senhor ou o novo dia de descanso para os cristãos. O teólogo Champlin, por exemplo,
tentando explicar esse texto, faz o seguinte comentário sobre o versículo 2: Alguns
supõem que isso ocorrera no sábado, mas a observação do “domingo” pela igreja
primitiva, como o novo dia de guarda, quase certamente mostra que criam que o
domingo fora, realmente, o dia da ressurreição. [1] Observe os termos que Champlin
utiliza para explicar questões tão sérias: “supõem”, “quase certamente” e “criam”. Em
vez de apresentar argumentos bíblicos objetivos, normativos, ele trabalha com
suposições. Por sua vez, o teólogo Isaltino G. C. Filho, para provar que Cristo ressuscitou
no domingo, usou como recurso a reunião de cristãos primitivos nesse dia, dizendo: “A
Igreja reunia-se no domingo, é uma pista bem clara a deduzir daqui. ”[2] A exemplo do
texto de Champlin, os termos usados aqui são “pista” e “deduzir”. Isaltino não apresenta
nenhuma prova bíblica normativa, concreta, mas, sim, agarra-se a pistas, deduções,
textos descritivos e depoimentos históricos extra bíblicos. [3] Como podemos observar, o
esforço empregado a favor do domingo como dia de descanso é quase sempre baseado
em textos que se referem à ressurreição de Cristo, embora nenhum deles, exceto o de
Mateus 28:1-6 declare o momento da ressurreição, e em textos que descrevem
momentos em que os cristãos primitivos estavam reunidos. Portanto, afirmar que Jesus
Cristo ressuscitou no domingo e usar isso para provar que esse dia é o dia de descanso
para os cristãos demonstra no mínimo, falta de respeito para com as regras de
interpretação da Bíblia e de compromisso para com a verdade de Deus.
II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Antes de apresentarmos a interpretação correta, é importante conhecermos a história do
texto que faz parte da conclusão do capítulo 16. A explicação preferida dos teólogos
liberais para Marcos 16:9 envolve uma acirrada discussão sobre a veracidade de
manuscritos, como vemos no exemplo a seguir: Os dois melhores e mais antigos
manuscritos que conhecemos o Vaticano (B) e o Sinaitico (representado às vezes por S,
outras vezes pela letra hebraica alef) e os MS 304 omitem os versos 9- 20. A evidência do
manuscrito 2386 é inconclusiva, pois, além de omitir os versos 9-20, o manuscrito não
contém a última página (...). O resultado dos estudos críticos mais recentes, aceito pela
maioria dos estudiosos, é que os versos 9-20 não foram escritos pelo mesmo autor do
Evangelho, na seção que corresponde a Mar. 1.1-16.8, mas foram acrescentados, talvez
nos meados do segundo século de nossa era. [4]
Champlin registra que: Quatro términos do evangelho segundo Marcos figuram-nos
manuscritos. Os últimos doze versículos do texto comumente recebido de Marcos se
fazem ausentes nos mais antigos manuscritos gregos. [5] Assim, seguem muitos
teólogos, afirmando que o trecho de Marcos 16:9-20 não foi escrito por Marcos. O que
não pode ser negado, entretanto, é que Marcos 16:9-20 existe em mais de 1800
manuscritos. E, sobre esse trecho, a opinião do respeitado teólogo Fritz Rienecker é
importante: Para a nossa vida de fé (...) os versículos 9-20 são palavras de Deus como
todos os outros versículos da Escritura, pois estão em nosso NT. [6]
Agora, vamos à interpretação correta de Marcos 16:9. No original grego, o texto foi
escrito assim:
A tradução Revista e Atualizada – RA – traduz esse texto desta forma: Havendo ele
ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria
madalena, da qual expelira sete demônios. A Edição Contemporânea, por sua vez, traduz
o texto assim: Tendo Jesus ressurgido de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. Na Nova
Tradução na linguagem de Hoje – NTLH –, o texto está traduzido desta maneira: Jesus
ressuscitou no domingo bem cedo e apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem havia
expulsado sete demônios. Com base nessas traduções, Jesus teria ressuscitado no
domingo pela manhã. Mas a questão é: Essas traduções expressam o que está dito no
original grego? A resposta é: Não! No original, o início do versículo está escrito assim: A
tradução literal é esta: Tendo-se levantado,
( ) porém, cedo em primeiro sábado ...).
Perceba, estudante, que as traduções (dé), que equivale à conjunção adversativa
tradicionais omitiram a conjunção é uma conjunção adversativa “porém” da língua
portuguesa. No grego, o termo e também pode ser aditiva, dependendo da oração.
Quando são adversativas, como neste caso, as conjunções têm como função, além de
ligar duas sentenças (sentenças coordenadas), firmar uma divergência de sentido da
segunda sentença em relação à primeira, ou seja, aquela se estabelece para ser uma
negação desta, por meio da conjunção, que carrega o sentido de contrariedade e que,
por isso, é chamada de adversativa. Ora, no texto bíblico em questão, a primeira
sentença – Tendo-se levantado – apresenta um primeiro evento: a ressurreição de
Jesus, sendo seguida da conjunção – porém – e da expressão adverbial de tempo – cedo
em primeiro sábado –, que é uma informação acrescentada à segunda sentença –
apareceu primeiro a Maria, a Madalena –, que apresenta um segundo evento: a aparição
do Senhor.
O que precisamos entender, agora, é por que a expressão adverbial de tempo – cedo em
primeiro do sábado – está para a segunda sentença e não para a primeira: A preferência
do escritor por uma conjunção adversativa, entre ambas as sentenças, é definitiva para a
interpretação correta deste texto, pois mostra que ambos os eventos estão em relação
de oposição, quanto ao momento de sua ocorrência, sendo que a conjunção adversativa
– porém – afeta especificamente a expressão temporal – cedo em primeiro do sábado –
que se segue à primeira sentença – Tendo-se levantado. Isso deixa claro que o autor, ao
invés estar afirmando que a ressurreição ocorrera em cedo em primeiro sábado, está, na
verdade, negando isso e, ao mesmo tempo, afirmando que esse momento refere-se ao
evento da aparição. Por essa razão, a expressão adverbial de tempo jamais poderia estar
para a primeira sentença. Em outras palavras, na primeira parte de Marcos 16:9, está-se
afirmando que Jesus ressuscitou, porém, estando ressurreto, no primeiro dia após o
sábado, apareceu a Maria madalena. O “primeiro dia após o sábado”, portanto, refere-se
ao seu aparecimento e não ao dia de sua ressurreição.
Com isso, concorda Champlin: Este versículo leva-nos a aparição a Maria Madalena, o que
não é realmente mencionado nos evangelhos sinóticos, exceto agora, neste sumário. [7]
Também, o Novo Comentário da Bíblia diz que o Trecho contém quatro seções: a aparição
a Maria Madalena (9-11); a aparição aos dois viajantes (12 e 13) a aparição aos onze (14-
18), a ascensão e exaltação (19 e20).[8]
Em nenhuma dessas sessões o assunto é a ressurreição de Cristo no primeiro dia da
semana. Esses equívocos de traduções acontecem, em parte, porque a pontuação, nos
textos da Bíblia é atribuída ao arcebispo Langton, ainda no século XIII. Assim, quando o
texto foi escrito originalmente, não continha nenhuma pontuação. Isso quer dizer que
seu sentido deve ser sempre entendido pelo contexto. As traduções mais conhecidas
colocam uma vírgula após as palavras “primeiro dia da semana”, e, por essa razão, dão a
entender, erroneamente, que foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Em outra parte,
percebe-se a má fé de pessoas que conhecem as regras de interpretação das Escrituras,
mas que preferem ignorá-las, quando lhes convém.
Por outro lado, o Novo Testamento Interlinear apresenta a tradução correta: Tendo-se
levantado, porém, cedo em primeiro do sábado, apareceu primeiramente a Maria, a
Madalena, de quem havia lançado fora sete demônios.
A Nova Versão Internacional omite o, porém, mas tem o mérito de colocar a vírgula no
lugar certo, respeitando o sentido correto do texto original: Quando Jesus ressuscitou, na
madrugada do primeiro dia da semana apareceu primeiramente a Maria Madalena. Essas
versões honestas estão em total harmonia com o contexto imediato de Marcos 16, em
que os versículos 1, 2, 5,6, informam que, no domingo, pela manhã, quando as mulheres
foram ao sepulcro, bem cedo, o anjo lhes comunicou que Jesus já havia ressuscitado:
Depois que terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, a mãe de Tiago,
compraram perfumes para perfumar o corpo de Jesus. No domingo, bem cedo, ao
nascer do sol, elas foram ao túmulo. Então elas entraram no túmulo e viram um moço
vestido de branco sentado no lado direito. Elas ficaram muito assustadas, mas ele disse:
—Não se assustem! Sei que vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado;
mas ele não está aqui, pois já foi ressuscitado. Vejam o lugar onde ele foi posto. (NTLH)
Essa interpretação correta está totalmente alinhada com as narrativas dos demais
evangelistas, Mateus e Lucas (Mt 28:1-6; Lc 24:1-10), e com a narrativa mais detalhada
de João (20:1-18), que tem a seguinte seqüência: No v.1, Cristo se apresenta a Maria
Madalena no sepulcro, bem cedo; no v. 2 é dito que ela correu e foi avisar os discípulos;
nos vv. 3-9, Pedro e João vão, imediatamente, ao sepulcro e confirmam a notícia, mas
não vêem a Cristo; por isso, o v. 10 diz: Os discípulos voltaram para casa. Maria, porém,
ficou à entrada do sepulcro chorando. Ela ficou ali sozinha, até que Jesus Cristo se
apresentou a ela (vv. 11-17). Foi, exatamente, a esse encontro que Marcos se referiu, em
16:9. Como Pedro e João só viram o túmulo vazio, Maria Madalena, agora já tendo se
encontrando pessoalmente com o Salvador, foi outra vez aos discípulos e lhes disse: Eu
vi o Senhor; e contou-lhes o que ele lhe dissera (Jo 20:18). Esta é, amado estudante, a
verdadeira interpretação de Marcos 16:9: Jesus ressuscitou, conforme Mateus 28:1-6, ao
pôr-do-sol de sábado, e, quando Maria Madalena foi ao sepulcro, na manhã do primeiro
dia, lá foi Jesus e se apresentou a ela. Não temos, com esse texto, nenhuma prova de
que Jesus ressuscitou no domingo de manhã, e muito menos de que o domingo seja o
dia de repouso dos cristãos.
CONCLUSÃO: Vivemos um momento delicado no mundo cristão, em que muitas teologias
têm aparecido para enganar os filhos de Deus. O perigo é tão grande que o próprio Jesus
avisou que, se possível, os eleitos seriam enganados (Mt 24:24). Diante dessa avalanche
de heresias e enganos, precisamos nos firmar em Cristo, através do conhecimento
perfeito de sua Palavra. Essa luz nos dará condições para nos livrarmos das trevas
espirituais que cobrem os corações enganadores e enganados. A verdade é essa luz que
ilumina o caminho da vida (Pv 6:23). Por essa razão, reafirmamos nossa atitude de não
alterarmos os fundamentos da lei de Deus, porque é santa; e o mandamento, santo, e
justo, e bom (Rm 7:12). Na Lei, nos dez mandamentos, o dia de descanso não é o
domingo, mas, sim, o sétimo dia da semana. Não se trata de um decreto humano, mas
divino: A parte legal consiste dos dez mandamentos que formam a lei fundamental da
teocracia e dos estatutos que nele se baseiam. [9] O doador dos dez mandamentos é
Deus. Moisés é apenas o transmissor ao povo. Não o seu autor. Este é Deus. ”[10]
LIÇÃO 11: ÊXODO 31:16
Esse texto indica que o sábado foi dado
apenas para os judeus?
Autor: Pastor Manoel Pereira Brito
Lição Bíblica 273, sábado, 10 de dezembro de 2005
OBJETIVOS: Conduzir o estudante ao fortalecimento em sua crença sobre a guarda do
sábado no sétimo dia da semana e conscientizá-lo de que a doutrina do sábado não foi
dada por Deus somente aos judeus, mas a todas as pessoas que foram salvas em Cristo,
em toda a terra.
TEXTO BÁSICO: Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas
suas gerações por concerto perpétuo. (Êx 31:16)
INTRODUÇÃO: Quanta confusão há, em relação à guarda do sábado no sétimo dia! Quanta
dificuldade para reconhecê-lo como o dia santo do Senhor Deus! É lamentável que
muitos cristãos não enxerguem duas grandes bênçãos divinas, entre tantas, relacionadas
à criação: o homem e o sábado. O primeiro Deus fez para pensar e agir (Gn 1:26-28); o
segundo Deus fez para dar suportes moral e emocional e para restaurar as forças físicas,
mentais e espirituais do homem. Não se pode, pois, entender o agir do homem sem o
sábado, nem a bênção e a santidade do sábado, sem o homem. A atitude do próprio
Criador em descansar, abençoar e santificar o sétimo dia dá ao sábado a condição de
santo dia do Senhor. Por essa razão, o estudo de hoje mostrará que o sábado ou
descanso foi o único feito divino que recebeu, já de início, o qualificativo de santo;
mostrará, também, que ele não foi feito apenas para o povo judeu, mas para todos os
povos, as nações, as etnias e as raças que povoam a terra, em quaisquer que sejam as
épocas. O sábado foi feito para repouso e para a devoção do homem a Deus.
I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Diversas organizações evangélicas vêem o santo sábado como instituição apenas para o
povo judeu, e apresentam os seguintes argumentos:
1) O sábado foi dado aos judeus, através de Moisés, como lembrança e sinal da aliança
que Deus firmara com os israelitas, no Egito. Tal argumento é Baseado em textos como
este: Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre (...) Disse mais o Senhor
a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito
concerto contigo e com Israel. (Êx 31:17, 34:27).
2) A lei de Deus – os dez mandamentos descritos em Êx 20:1-17 – não existia, antes de
ser dada no Monte Sinai. Esse argumento é baseado neste texto: Não com nossos pais
fez o Senhor este concerto, senão conosco, todos os que hoje aqui estamos vivos. (Dt
5:3)
3) O sábado não foi mencionado na criação. Ele fazia parte da lei cerimonial, dada por
Moisés, aos israelitas. Essa lei fazia referência a todo um procedimento temporário que
os israelitas deveriam adotar, até a chegada do Senhor Jesus Cristo.
O ex-padre, Aníbal Reis, forte opositor do sábado, apresenta este argumento: No
contexto da vigência da Lei os judeus viviam debaixo da sombra dos bens futuros (cf.
Hb. 10:1). Ao consumar no Calvário a obra objetiva da Redenção, Jesus Cristo, Luz do
mundo extinguiu todas as sombras e nele se consumaram todas as figuras. Extintas as
sombras e consumadas as figuras, o sábado também caducou porque das sombras e
figuras fazia parte (...). Apesar de todas essas instituições e estatutos serem no Antigo
Testamento PARA SEMPRE (perpétuas), caducaram quando da Morte de Jesus Cristo.
Nenhuma delas se encontram no Cristianismo (...). Foram “perpétuas” no sentido de
durarem por toda a vigência do Velho Testamento. O sábado semanal de igual maneira foi
perpétuo com o significado de duração restrita à permanência do cerimonial judaico...
SINAL do Concerto entre Deus e Israel, o sábado se restringiu às gerações israelitas sem
implicar os gentios. [1]
Por sua vez, Champlin comenta o seguinte: Não há registro de que o sábado era
observado na época patriarcal, embora o início “teológico” esteja relacionado à criação
divina de todas as coisas e ao descanso de Deus de seu trabalho (Gn. 2:2) (...) Na
teologia hebraica, esse dia sagrado comemorava a criação original e a redenção de Israel
do Egito (Gn. 2:2; Êx. 20:8, 11; Dt. 5:15) (...). Embora haja teorias diversas quanto às
origens (...) parece que essa era uma instituição exclusiva aos hebreus antes de a idéia
propagar-se a outros povos. [2]
Por esses argumentos, vemos o quanto os conceitos de certo e errado são subjetivos
em nossa época; percebemos o quanto as respostas dos homens procuram satisfazer os
interesses de cada questionador. Porém, quando nos colocamos diante da palavra de
Deus, a ela devemos nos curvar, perguntando: Pode Deus, porventura, errar? Podem
Seus preceitos morais, éticos e espirituais terem sido dados para esse e não para aquele
povo?
II – A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Na Bíblia sagrada, o sábado é o sétimo dia da semana, santificado ao Senhor Deus e dado
por ele a seus filhos como prova de obediência: ele é declarado dia abençoado, dia de
repouso e dia santificado; essas qualidades foram eternizadas pelo ato de Deus de
descansar nesse dia depois de haver criado todas as coisas: E viu Deus tudo quanto tinha
feito, e eis que era muito bom (Gn 1:31; 2:2-3). Os demais seis dias da semana, e toda
criação eram, também, bons. A nenhum deles, porém, Deus atribuiu o qualificativo de
santidade, uma das qualidades essenciais da Divindade, como fez com o sétimo dia,
chamando-o de “santo” ontem, hoje e sempre (Gn 2:2-3; Êx 16:23, 31:14).
O sábado não surgiu com o povo judeu, mas com o primeiro homem e continuará
existindo enquanto, sobre a terra, houver algum ser humano. Assim disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem; e domine... Frutificai e multiplicai-vos (Gn 1:26-28).
No poder que o homem recebeu para governar a terra, está incluso o respeito aos seus
limites físicos, mentais e espirituais; por isso, ele deve governar considerando o dia de
repouso, de descanso, para que possa oferecer a devida devoção a Deus. Adão e Eva
foram as primeiras pessoas a quem Deus manifestou esses princípios de vida, esses
valores que provêm de sua soberana vontade, e o casal foi transmitindo esse legado
divino a seus descendentes (Gn 1:26-28). Nada se perdeu, pelo cuidado especial que
Deus tem para com o fiel cumprimento de sua Palavra (Jr 1:12).
Bem antes do povo judeu, Abraão e todos os demais patriarcas bíblicos também
guardaram os preceitos divinos, entre os quais a guarda do sábado está incluída:
Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou os meus estatutos e as minhas
leis... eu apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso (...). E também
estabeleci o meu concerto com eles. (Gn 26:5; Êx 6:2-7) Se Deus apareceu a esses
homens; se eles guardaram preceitos e mandamentos de Deus, será que não sabiam
que deveriam observar a guarda do sétimo dia da semana, como fora dado e ensinado de
início? Será que Deus havia se esquecido do que ele mesmo ordenara, ao criar o sétimo
dia da semana? Evidentemente, não! Logo, o santo sábado sempre foi guardado com
fidelidade, a partir da criação.
A contagem bíblica dos dias da semana é feita de um pôr-do-sol a outro pôr-do-sol, cuja
determinação é do próprio Deus. Isto inviabiliza a suposta idéia segundo a qual o sábado,
santo dia do Senhor se perdeu ao longo dos anos. A determinação bíblica é esta: De
uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado (Gn 1:5, 13, 23,31; Lv 23:32). Estes
textos não se referem ao sábado cerimonial, mas ao santo sábado do Senhor, conhecido
por seu povo desde os tempos antigos, porque foi feito por causa do homem (Mc 2:27).
Balbach transcreve um trecho do comentarista batista, Broadus, com o seguinte teor:
Investigações recentes mostram que os babilônios, antes do tempo de Abraão,
contavam uma semana de sete dias, que findava com um dia de descanso, que era
estritamente observado, e que os escritos assírios designavam por sábado (...). O próprio
termo lembra-te do sábado, para o santificar (Êx 20:8), parece tratá-lo não como uma
coisa nova, mas uma instituição já existente; e parece da história da primeira queda do
maná (Êx. 16:5, 22-30) que o povo já estava relacionando com o sábado, e que alguns
estavam dispostos a esquecê-lo ou negligenciá-lo [3]
Os israelitas conviveram com povos pagãos, como escravos, no Egito, durante um
período de 430 anos (Êx 12:40-41; Gl 3:7). Deus, todavia, não se distanciou de seu povo,
nem o povo se distanciou tanto assim de Deus, a ponto de se esquecerem dos preceitos
divinos. Disse Deus: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e
tenho ouvido o seu clamor (Êx 3:7-8). Isso prova que havia comunhão do povo com
Deus e de Deus com seu povo. Parte das perseguições movidas contra os israelitas era
motivada pelo fato de se tratar do povo de Deus, que guardava e obedecia aos preceitos
divinos, dos quais o sábado fazia parte. Deus libertou seus filhos em cumprimento as
suas promessas; também porque estes lhes foram obedientes (Êx 24:7).
A saída dos israelitas do Egito marcou o início da formação desse povo, como nação
independente. Deus passou a capacitar essa nação com um sistema de leis, regras e
padrões, visando organizá-la para que sua vida social, política e espiritual funcionasse de
forma equilibrada. Ao pé do Monte Sinai, Deus procedeu à entrega dos Dez
Mandamentos, únicos escritos de seu próprio punho, como prova de eternidade daquilo
que já havia ensinado aos patriarcas. Na ordem seqüencial dessas Dez Palavras, o sábado
aparece em quarto lugar, interligando deveres entre Deus e o homem, não como
mandamento novo, mas como lembrança daquilo que, há muito tempo, já era
conhecido: Lembra-te do sábado para santificá-lo (Êx 20:8-11). Com essa solene
descrição histórica do sábado, Deus quer que conheçamos e lembremos-nos do sétimo dia
da semana como o dia de descanso por ele santificado (Gn 2:2, 3; Êx 20:1-17).
Em Nm 15:32-35, temos um exemplo doloroso resultante da desobediência à guarda
sábado: Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando
lenha no dia de sábado. Os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moisés, e a
Arão, e a toda a congregação. Meteram-no em guarda, porquanto ainda não estava
declarado o que se lhe devia fazer. Até este ponto da narrativa, com nossa cabeça
moderna, poderíamos achar que isso é radicalismo do povo de Israel. Veja, então, a
seqüência do texto e quem é que define a questão: Então, disse o SENHOR a Moisés: Tal
homem será morto; toda a congregação o apedrejará fora do arraial. Levou-o, pois, toda
a congregação para fora do arraial, e o apedrejaram; e ele morreu, como o SENHOR
ordenara a Moisés. (Nm 15:36) E agora, você se atreve a chamar Deus de radical? Tem o
estudante a audácia de afirmar que essa lei “é de Moisés”? A obediência à guarda do
sábado era segurança de vida; os israelitas deveriam obedecer ao quarto mandamento
por amor de suas almas (Jr 17:21 – cf. Ne 13:17-22).
O sábado não pertence ao conjunto de leis cerimoniais, dadas por Moisés, aos israelitas;
integra os Dez Mandamentos da Lei Moral escrita pelo próprio Deus e dada aos israelitas,
como evidência da aliança firmada, cujo objetivo central era conscientizá-los de que o
Senhor é seu único Deus (Dt 6:4). Bacchiocchi, referindo ao maná colhido em dobro, na
sexta-feira comenta o seguinte: O sábado é apresentado em Êxodo 16 e 20 como uma
instituição já existente (...). A falta de explicação sobre a necessidade de se recolher
quantidade dupla no sexto dia seria incompreensível, se os israelitas não tivessem
conhecimento prévio do sábado. Do mesmo modo, em Êxodo 20, o sábado aparece
como algo familiar... Sem embargo, a essência do sábado não é um lugar onde se possa
ir para cumprir alguns ritos, e sim um tempo para se dedicar a Deus, aos demais seres e
a si mesmo. [4] O sábado é, pois, o dia santo, de reflexões e adoração a quem devemos
prestar louvores e gratidão, por todas as coisas criadas.
Jesus Cristo sempre esteve junto ao Pai e participou de todos os atos da criação. São
dele estas palavras: Eu e o Pai somos um... quem vê a mim, vê o Pai. (Jo 1:2, 3, 10:30,
14:9) E disse também: O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por
causa do sábado (Mc 2:27). Isto evidencia que, desde o início da criação, o homem
necessita do sábado para satisfazer suas necessidades físicas e espirituais e demonstrar
sua obediência a Deus. Se o sábado fosse dado apenas ao judeu, por que Jesus se
referiu, de forma tão genérica, ao homem e não ao judeu, especificamente? Por que João
e Paulo fizeram estas afirmações: ... a salvação vem dos judeus... que são israelitas, dos
quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas?
(Jo 4:22; Rm 9:4)
Por que nos esforçamos para conseguir a salvação que vem dos judeus e rejeitamos
guardar o sábado como mandamento do Senhor, se o sábado e a salvação procedem
igualmente de uma mesma fonte? O texto de Êxodo 31:16, portanto, onde está
declarado que o sábado deve ser obedecido por aliança eterna nas suas gerações, não é
um mandamento restrito ao povo judeu como nação, mas a todos os salvos de todas as
nações, visto que a base da nossa salvação vem de Israel; o nosso Salvador é da tribo de
Judá (Hb 7:14) e o Novo Testamento nos chama de o Israel de Deus (Gl 6:16).
É evidente que Deus fez com seu povo uma nova aliança, a da cruz, cuja base é o sangue
de Cristo; porém, o próprio Senhor da Cruz foi obediente aos mandamentos do Pai, entre
eles a guarda do sábado, sem aboli-lo (Mt 5:17). Isso é comprovado pela luta que Cristo
teve com os judeus para restaurar o verdadeiro sentido do dia sagrado que havia sido
transformado num fardo insuportável (Mc 2:23-28; Jo 5:16-18). Logo, para nós, cristãos,
as leis morais e espirituais dadas por Deus, no Antigo Testamento, e que foram validadas
no Novo Testamento, permanecem como o concerto eterno feito entre Deus e o
homem, a ser obedecido por todos os homens até o último dia de vida na terra, quando
terá início o sábado eterno ou o descanso eterno (Hb 4:8-11; Ex 16:17). O sábado, então,
deverá ser guardado, como foi instituído por Deus, quer por judeu, quer por gentio; quer
por israelita, quer por grego, como dia de santas convocações (Lv 23:2).
No dia de sábado, paremos com nossos trabalhos seculares; nesse dia santo, nossas
palavras e atividades devem ser substituídas pela oração, pela leitura da palavra de Deus,
pela freqüência à casa do Senhor (Sl 42:4), pelos cânticos de adoração, pelos louvores;
pelo atendimento à obra de Deus e pelo bem-estar espiritual de nossos semelhantes.
Vivamos a fé cristã com essas qualidades, certos de que todo cristão sincero é israelita
ou judeu no seu interior, pois, pela fé que nos vem de Jesus Cristo, Não é judeu o que o
é exteriormente (...) mas é judeu o que o é no [seu] interior (...) porque primeiramente
as palavras de Deus lhes foram confiadas (Rm 2:28, 29, 3:2). CONCLUSÃO: Amado irmão
em Cristo, Deus não faz distinção de pessoa, de povo ou nação que a ele se achegue. A
todos, Deus recebe de braços abertos, como bom Pai. É neste mesmo sentido que suas
maravilhosas leis são dadas a todos. Assim é que o sábado não foi dado apenas para o
judeu, que guardava os preceitos do Senhor, mas a todos, povos e nações formadas por
pessoas salvas por seu Filho Jesus Cristo.
O mal dos judeus foi que eles criaram, para si próprios, princípios que Deus não aprova, e
voltaram-se para as coisas perecíveis. Por último, rejeitaram ao Senhor da glória, sem o
qual ninguém se salva. Em Oséias 4:6, lê-se: O meu povo foi destruído porque lhe faltou
conhecimento. Para que você não se perca, amado irmão, busque sempre em Deus o
conhecimento de sua Palavra para que você seja um servo obediente.
LIÇÃO 14: II CORINTIOS 3:14
Esse texto ensina que os livros do Antigo
Testamento foram abolidos por Cristo?
Autor: Pastor José Lima de farias Filho
Lição Bíblica 273, sábado, 31 de dezembro de 2005
OBJETIVO: Mostrar ao estudante o sentido teológico do que Paulo diz, em II Co 3:14, e conscientizado de que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são a única regra de fé e prática para a sua vida.
TEXTO BÁSICO: Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem à leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece não lhes sendo revelado que, em Cristo é removido. (II Co 3:14)
INTRODUÇÃO: Nos treze estudos anteriores, aprendemos que os textos, seja um versículo, um capítulo ou um livro, sempre devem ser interpretados à luz do seu
contexto, a fim de que a verdade da Bíblia, não a nossa, prevaleça. Neste último estudo desta série, usaremos essas regras interpretativas para que possamos compreender o ensino apresentado pelo apóstolo Paulo, em II Co 3:14. Esse texto nos dá a oportunidade
de refletirmos sobre um dos pontos principais que distinguem o Antigo Testamento do Novo Testamento ou a antiga aliança da nova aliança. A questão a ser respondida é esta: O fato de Deus ter feito uma nova aliança com seu povo anula o conteúdo na velha aliança?
I – A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Muitos cristãos argumentam que o Antigo Testamento caducou, isto é, perdeu sua validade como palavra de Deus. Esses irmãos compreendem que o conteúdo do Antigo Testamento expressa a antiga aliança que Deus fez com o povo judeu, mas que perdeu o seu valor, em razão desse povo não ter cumprido sua parte no acordo, o que fez com que o Senhor realizasse uma nova aliança, tornando a outra sem efeito algum. Desta forma, os filhos da nova aliança, feita por Jesus Cristo, na cruz, devem ignorar os
preceitos do Antigo Testamento e moldar sua vida pelos preceitos da nova aliança, expressos no Novo Testamento. As palavras de Paulo, em II Coríntios 3:14, são utilizadas para provar que o Antigo Testamento passou e que os que crêem nele não perceberam isso, porque seus entendimentos estão embotados, isto é, eles lêem e acreditam na antiga aliança, mas não a compreendem, porque uma espécie de véu encobre-lhes o entendimento, pelo fato de não entenderem o verdadeiro sentido espiritual da obra de
Cristo. Os que interpretam II Co 3:14 dessa forma usam, ainda, II Coríntios 4:3-4 para afirmar que os cristãos que crêem no Antigo Testamento como palavra de Deus estão com suas mentes endurecidas pelo diabo.
II – A INTERPRETAÇÃO CERTA
Em primeiro lugar, é importante verificarmos o propósito geral da segunda carta aos
Coríntios: expressar a alegria pela reação favorável da igreja ao ministério de Paulo (vv. 1-7), relembrar aos irmãos o compromisso que deveriam ter para com as ofertas aos irmãos da Judéia (8-9) e defender a autoridade apostólica de Paulo (vv. 10-13). Quando o apóstolo começou a se referir aos pormenores sobre sua pessoa (4:8-18, 11:22-33), especificou algumas características de seu apostolado, enfatizando que a base de sua pregação é a nova aliança feita por Jesus Cristo, na cruz (II Co 3:4-18). Para mostrar a superioridade da nova aliança, quanto a sua eficácia para a salvação dos pecadores, inevitavelmente, Paulo teve de compará-la à antiga aliança. Ao fazer essa comparação, o apóstolo jamais ensinou que o conteúdo do Antigo Testamento perdeu a sua força como
palavra de Deus.
Que Bíblia o apóstolo Paulo usava para pregar sobre a nova aliança? Como não havia o Novo Testamento, o apóstolo pregava sobre a nova aliança baseado na velha aliança, o Antigo Testamento. Leia os textos a seguir para comprovar isso: At 28:25, 13:16-41,
15:15-18, 17:22-31, 24:14-16, 26:6-23; Rm 1:17, 13:9, 16:26; I Co 9:9, 14:21, 15:45; Gl
4:22, 27; Ef 6:2, 9:13, 10:15, 11:26. Ora, se Paulo tivesse dito, em II Co 4:13, que a nova
aliança havia anulado o conteúdo do Antigo Testamento, cometeria grave incoerência, já
que havia utilizado o seu conteúdo, durante todo o tempo de seu ministério apostólico,
afirmando que o Antigo Testamento é palavra de Deus. É verdade que O Velho
Testamento não se tornou Novo Testamento (as duas alianças não podem ser
confundidas), mas tornou-se um novo Velho Testamento, para Paulo. [1]
Sabendo que Paulo tinha como base de sua fé o Antigo Testamento e que foi o homem
mais usado pelo Espírito Santo para escrever e explicar o real sentido da nova aliança, o
que ele está ensinando em II Co 3:14? No contexto imediato deste texto, vemos que
Paulo estava sendo acusado por judeus opositores, membros da igreja em Corinto, de
pregar uma nova versão para a revelação de Deus, que já estava escrita no Antigo
Testamento, de forma que esses opositores acusavam o apóstolo de obscurecer o que
estava claro nos escritos de Moisés e dos profetas. A essa acusação, Paulo respondeu da
seguinte forma: ... pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se
ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos
recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação
da verdade. (II Co 4:2-3)
Ele disse isso para melhor esclarecer o que dissera no capítulo 3, quando iniciou o debate
sobre a nova aliança, tema que, para esses líderes acusadores, era algo incompreensível,
devido à visão estreita que tinham do Antigo Testamento, o que os impedia de ver que a
velha aliança apontava para a nova aliança. Por isso, Paulo lhes disse: ... se o nosso
evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais
o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. (II Co 4:
4-5)
Incrédulos! Essa é a definição do apóstolo para os judeus que liam o Antigo Testamento
e não enxergavam que as profecias ali contidas apontavam para Cristo, o protagonista da
nova aliança. Paulo mostrou que ler a antiga aliança e não ver nela a graça de Deus, não
enxergar nela as promessas divinas de fazer um novo concerto com seu povo, através de
uma nova aliança (Jr 31:31; Ez 11:19), é estar sob a influência do deus deste século. Os
judeus opositores de Paulo resistiam a essa verdade, assim como os judeus opositores
de Cristo lhe resistiram, o que levou Jesus a lhes dizer: Vós sois do diabo, que é vosso
pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se
firmou na verdade, porque nele não há verdade. (Jo 8:44) Nesse ambiente de oposição,
de resistência à verdade, de cegueira espiritual, de insistência em não enxergar a
verdade prescrita no Antigo Testamento, é que Paulo declara: Mas os sentidos deles se
embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo
véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo é removido. O que Paulo está
atacando é a incapacidade espiritual ou a dureza de coração de seus opositores, e não o
conteúdo dos livros do Antigo Testamento. Eles liam a antiga aliança, mas não
enxergavam que Jesus era o cumprimento dela, como ele próprio declarara: São estas as
palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que
de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (Lc 24:44)
Para que seus opositores fossem iluminados e compreendessem a função da antiga e da
nova aliança, e fossem definitivamente libertos, Paulo fez uma comparação entre a
pregação de Moisés (o escritor das santas leis divinas) e ele próprio (o escritor da graça
divina). O primeiro é representante da aliança da letra, que mata (porque mostra os
pecados cujo salário é a morte), mas, ao mesmo tempo, é gloriosa; o segundo é
representante da aliança do espírito, que vivifica, e, por isso, é ainda mais gloriosa. Leia II
Co 3:6-11 para compreender como Paulo considera superior a nova aliança feita por
Cristo (sem ela, o ser humano não será salvo), mas o faz sem desmerecer a antiga,
declarando que esta se revestiu de glória. Esta mesma questão Paulo esclareceu aos
cristãos de Roma (Rm 11:7-12).
Até aquele momento em que Paulo escrevia, os escritos de Moisés eram lidos, mas o
véu da incredulidade, da falta de iluminação espiritual, impedia que a verdade lhes
entrasse no coração (II Co 3:15). Em seguida, o apóstolo diz que: Quando, porém, algum
deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado (II Co 3:16). Mas essa conversão só
aconteceu porque o Espírito Santo agiu, libertando-os: Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde
está o Espírito do Senhor, aí há liberdade (II Co 3:17 – cf. Jo 16:7-8) Agora, libertos,...
todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do
Senhor somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito. (II Co 3:18) Paulo, portanto, em II Co 3:14, não ataca os livros do
Antigo Testamento, mas enaltece a eficácia salvífica da mui gloriosa nova aliança,
prescrita na gloriosa antiga aliança, deixando claro que a função do novo acordo, feito na
cruz, por Cristo, não é inutilizar a palavra de Deus, mas promover a remissão de pecados
e conduzir os salvos à vida eterna (I Co 11:25; II Co 3:6 – cf. Mt 26:28; Mc 14:24; Hb
9:15, 12:24).
CONCLUSÃO: Muitas pessoas se dirigem ao Antigo testamento com palavras depreciativas
e desrespeitosas. Todavia, essa não é uma atitude prudente, visto que o Novo
Testamento, referindo-se ao Antigo, declara: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (II
Tm 3:16-17) Toda a Escritura é inspirada, até mesmo as partes que o Novo Testamento
declara serem “sombras” da nova aliança, como no caso das leis que regiam os
transitórios sacrifícios de animais. Por serem palavras de Deus, não podem ser
descartadas, visto que são úteis para nos ajudar a compreender as verdades
permanentes. Sigamos o exemplo do protagonista da nova aliança, o Senhor Jesus
Cristo, que, ensinando com a Bíblia de seu tempo, o Antigo Testamento, declarou: Tudo
quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a Lei e os Profetas. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os
Profetas. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas
mesmas que testificam de mim. (Mt 7:12; 22:40; Jo 5:39)
LIÇÃO 13: MARCOS 16:9
Este texto ensina que a ressurreição de Cristo alterou o dia de descanso do sábado para
o domingo?
Autor: Pastor Genésio Mendes
Lição Bíblica 273, sábado, 24 de dezembro de 2005
OBJETIVO: Levar o estudante da Palavra a compreender que o texto de Mc 16:9 não
autoriza os cristãos a mudarem o dia de descanso, o sétimo dia, para o primeiro dia da
semana, o domingo.
TEXTO BÁSICO: Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios. (Mc 16:9)
INTRODUÇÃO: Desde a lição de número 6, temos visto como alguns intérpretes, no
desejo de afirmarem que a salvação é pela maravilhosa graça de Deus,
desnecessariamente tentam desqualificar a lei de Deus, e, para concretizarem esse
intento, na maioria das vezes, isolam os textos de seus contextos, aplicando regras
hermenêuticas que lhes sejam convenientes, a fim de obterem o resultado que mais
agrada-lhes. Nessa postura, encontramos comentaristas bíblicos usando Marcos 16:9
para provar que a ressurreição de Jesus ocorreu no primeiro dia da semana, e, com isso,
ter um pretexto para justificar seu desvio histórico sobre o dia determinado para a guarda
do quarto mandamento da Lei de Deus. Porém, quando interpretarmos Marcos 16:9,
dentro do seu contexto, inevitavelmente, descobrimos que o Senhor Jesus não
ressuscitou no primeiro dia da semana.
II - A INTERPRETAÇÃO ERRADA
Quando lemos as explicações teológicas dos defensores da mudança do dia de descanso,
percebemos o quanto eles forçam o texto sagrado até que obtenham um sentido que
não corresponde ao que foi inspirado pelo Espírito Santo, o autor da Bíblia. O texto que
ora estudamos é um exemplo: afirma-se que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou na
manhã de domingo com a clara intenção de respaldar a guarda desse dia como o dia do
Senhor ou o novo dia de descanso para os cristãos. O teólogo Champlin, por exemplo,
tentando explicar esse texto, faz o seguinte comentário sobre o versículo 2: Alguns
supõem que isso ocorrera no sábado, mas a observação do “domingo” pela igreja
primitiva, como o novo dia de guarda, quase certamente mostra que criam que o
domingo fora, realmente, o dia da ressurreição. [1] Observe os termos que Champlin
utiliza para explicar questões tão sérias: “supõem”, “quase certamente” e “criam”. Em
vez de apresentar argumentos bíblicos objetivos, normativos, ele trabalha com
suposições. Por sua vez, o teólogo Isaltino G. C. Filho, para provar que Cristo ressuscitou
no domingo, usou como recurso a reunião de cristãos primitivos nesse dia, dizendo: “A
Igreja reunia-se no domingo, é uma pista bem clara a deduzir daqui. ”[2] A exemplo do
texto de Champlin, os termos usados aqui são “pista” e “deduzir”. Isaltino não apresenta
nenhuma prova bíblica normativa, concreta, mas, sim, agarra-se a pistas, deduções,
textos descritivos e depoimentos históricos extra bíblicos. [3] Como podemos observar, o
esforço empregado a favor do domingo como dia de descanso é quase sempre baseado
em textos que se referem à ressurreição de Cristo, embora nenhum deles, exceto o de
Mateus 28:1-6 declare o momento da ressurreição, e em textos que descrevem
momentos em que os cristãos primitivos estavam reunidos. Portanto, afirmar que Jesus
Cristo ressuscitou no domingo e usar isso para provar que esse dia é o dia de descanso
para os cristãos demonstra no mínimo, falta de respeito para com as regras de
interpretação da Bíblia e de compromisso para com a verdade de Deus.
II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Antes de apresentarmos a interpretação correta, é importante conhecermos a história do
texto que faz parte da conclusão do capítulo 16. A explicação preferida dos teólogos
liberais para Marcos 16:9 envolve uma acirrada discussão sobre a veracidade de
manuscritos, como vemos no exemplo a seguir: Os dois melhores e mais antigos
manuscritos que conhecemos o Vaticano (B) e o Sinaitico (representado às vezes por S,
outras vezes pela letra hebraica alef) e os MS 304 omitem os versos 9- 20. A evidência do
manuscrito 2386 é inconclusiva, pois, além de omitir os versos 9-20, o manuscrito não
contém a última página (...). O resultado dos estudos críticos mais recentes, aceito pela
maioria dos estudiosos, é que os versos 9-20 não foram escritos pelo mesmo autor do
Evangelho, na seção que corresponde a Mar. 1.1-16.8, mas foram acrescentados, talvez
nos meados do segundo século de nossa era. [4]
Champlin registra que: Quatro términos do evangelho segundo Marcos figuram-nos
manuscritos. Os últimos doze versículos do texto comumente recebido de Marcos se
fazem ausentes nos mais antigos manuscritos gregos. [5] Assim, seguem muitos
teólogos, afirmando que o trecho de Marcos 16:9-20 não foi escrito por Marcos. O que
não pode ser negado, entretanto, é que Marcos 16:9-20 existe em mais de 1800
manuscritos. E, sobre esse trecho, a opinião do respeitado teólogo Fritz Rienecker é
importante: Para a nossa vida de fé (...) os versículos 9-20 são palavras de Deus como
todos os outros versículos da Escritura, pois estão em nosso NT. [6]
Agora, vamos à interpretação correta de Marcos 16:9. No original grego, o texto foi
escrito assim:
A tradução Revista e Atualizada – RA – traduz esse texto desta forma: Havendo ele
ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria
madalena, da qual expelira sete demônios. A Edição Contemporânea, por sua vez, traduz
o texto assim: Tendo Jesus ressurgido de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. Na Nova
Tradução na linguagem de Hoje – NTLH –, o texto está traduzido desta maneira: Jesus
ressuscitou no domingo bem cedo e apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem havia
expulsado sete demônios. Com base nessas traduções, Jesus teria ressuscitado no
domingo pela manhã. Mas a questão é: Essas traduções expressam o que está dito no
original grego? A resposta é: Não! No original, o início do versículo está escrito assim: A
tradução literal é esta: Tendo-se levantado,
( ) porém, cedo em primeiro sábado ...).
Perceba, estudante, que as traduções (dé), que equivale à conjunção adversativa
tradicionais omitiram a conjunção é uma conjunção adversativa “porém” da língua
portuguesa. No grego, o termo e também pode ser aditiva, dependendo da oração.
Quando são adversativas, como neste caso, as conjunções têm como função, além de
ligar duas sentenças (sentenças coordenadas), firmar uma divergência de sentido da
segunda sentença em relação à primeira, ou seja, aquela se estabelece para ser uma
negação desta, por meio da conjunção, que carrega o sentido de contrariedade e que,
por isso, é chamada de adversativa. Ora, no texto bíblico em questão, a primeira
sentença – Tendo-se levantado – apresenta um primeiro evento: a ressurreição de
Jesus, sendo seguida da conjunção – porém – e da expressão adverbial de tempo – cedo
em primeiro sábado –, que é uma informação acrescentada à segunda sentença –
apareceu primeiro a Maria, a Madalena –, que apresenta um segundo evento: a aparição
do Senhor.
O que precisamos entender, agora, é por que a expressão adverbial de tempo – cedo em
primeiro do sábado – está para a segunda sentença e não para a primeira: A preferência
do escritor por uma conjunção adversativa, entre ambas as sentenças, é definitiva para a
interpretação correta deste texto, pois mostra que ambos os eventos estão em relação
de oposição, quanto ao momento de sua ocorrência, sendo que a conjunção adversativa
– porém – afeta especificamente a expressão temporal – cedo em primeiro do sábado –
que se segue à primeira sentença – Tendo-se levantado. Isso deixa claro que o autor, ao
invés estar afirmando que a ressurreição ocorrera em cedo em primeiro sábado, está, na
verdade, negando isso e, ao mesmo tempo, afirmando que esse momento refere-se ao
evento da aparição. Por essa razão, a expressão adverbial de tempo jamais poderia estar
para a primeira sentença. Em outras palavras, na primeira parte de Marcos 16:9, está-se
afirmando que Jesus ressuscitou, porém, estando ressurreto, no primeiro dia após o
sábado, apareceu a Maria madalena. O “primeiro dia após o sábado”, portanto, refere-se
ao seu aparecimento e não ao dia de sua ressurreição.
Com isso, concorda Champlin: Este versículo leva-nos a aparição a Maria Madalena, o que
não é realmente mencionado nos evangelhos sinóticos, exceto agora, neste sumário. [7]
Também, o Novo Comentário da Bíblia diz que o Trecho contém quatro seções: a aparição
a Maria Madalena (9-11); a aparição aos dois viajantes (12 e 13) a aparição aos onze (14-
18), a ascensão e exaltação (19 e20).[8]
Em nenhuma dessas sessões o assunto é a ressurreição de Cristo no primeiro dia da
semana. Esses equívocos de traduções acontecem, em parte, porque a pontuação, nos
textos da Bíblia é atribuída ao arcebispo Langton, ainda no século XIII. Assim, quando o
texto foi escrito originalmente, não continha nenhuma pontuação. Isso quer dizer que
seu sentido deve ser sempre entendido pelo contexto. As traduções mais conhecidas
colocam uma vírgula após as palavras “primeiro dia da semana”, e, por essa razão, dão a
entender, erroneamente, que foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Em outra parte,
percebe-se a má fé de pessoas que conhecem as regras de interpretação das Escrituras,
mas que preferem ignorá-las, quando lhes convém.
Por outro lado, o Novo Testamento Interlinear apresenta a tradução correta: Tendo-se
levantado, porém, cedo em primeiro do sábado, apareceu primeiramente a Maria, a
Madalena, de quem havia lançado fora sete demônios.
A Nova Versão Internacional omite o, porém, mas tem o mérito de colocar a vírgula no
lugar certo, respeitando o sentido correto do texto original: Quando Jesus ressuscitou, na
madrugada do primeiro dia da semana apareceu primeiramente a Maria Madalena. Essas
versões honestas estão em total harmonia com o contexto imediato de Marcos 16, em
que os versículos 1, 2, 5,6, informam que, no domingo, pela manhã, quando as mulheres
foram ao sepulcro, bem cedo, o anjo lhes comunicou que Jesus já havia ressuscitado:
Depois que terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, a mãe de Tiago,
compraram perfumes para perfumar o corpo de Jesus. No domingo, bem cedo, ao
nascer do sol, elas foram ao túmulo. Então elas entraram no túmulo e viram um moço
vestido de branco sentado no lado direito. Elas ficaram muito assustadas, mas ele disse:
—Não se assustem! Sei que vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado;
mas ele não está aqui, pois já foi ressuscitado. Vejam o lugar onde ele foi posto. (NTLH)
Essa interpretação correta está totalmente alinhada com as narrativas dos demais
evangelistas, Mateus e Lucas (Mt 28:1-6; Lc 24:1-10), e com a narrativa mais detalhada
de João (20:1-18), que tem a seguinte seqüência: No v.1, Cristo se apresenta a Maria
Madalena no sepulcro, bem cedo; no v. 2 é dito que ela correu e foi avisar os discípulos;
nos vv. 3-9, Pedro e João vão, imediatamente, ao sepulcro e confirmam a notícia, mas
não vêem a Cristo; por isso, o v. 10 diz: Os discípulos voltaram para casa. Maria, porém,
ficou à entrada do sepulcro chorando. Ela ficou ali sozinha, até que Jesus Cristo se
apresentou a ela (vv. 11-17). Foi, exatamente, a esse encontro que Marcos se referiu, em
16:9. Como Pedro e João só viram o túmulo vazio, Maria Madalena, agora já tendo se
encontrando pessoalmente com o Salvador, foi outra vez aos discípulos e lhes disse: Eu
vi o Senhor; e contou-lhes o que ele lhe dissera (Jo 20:18). Esta é, amado estudante, a
verdadeira interpretação de Marcos 16:9: Jesus ressuscitou, conforme Mateus 28:1-6, ao
pôr-do-sol de sábado, e, quando Maria Madalena foi ao sepulcro, na manhã do primeiro
dia, lá foi Jesus e se apresentou a ela. Não temos, com esse texto, nenhuma prova de
que Jesus ressuscitou no domingo de manhã, e muito menos de que o domingo seja o
dia de repouso dos cristãos.
CONCLUSÃO: Vivemos um momento delicado no mundo cristão, em que muitas teologias
têm aparecido para enganar os filhos de Deus. O perigo é tão grande que o próprio Jesus
avisou que, se possível, os eleitos seriam enganados (Mt 24:24). Diante dessa avalanche
de heresias e enganos, precisamos nos firmar em Cristo, através do conhecimento
perfeito de sua Palavra. Essa luz nos dará condições para nos livrarmos das trevas
espirituais que cobrem os corações enganadores e enganados. A verdade é essa luz que
ilumina o caminho da vida (Pv 6:23). Por essa razão, reafirmamos nossa atitude de não
alterarmos os fundamentos da lei de Deus, porque é santa; e o mandamento, santo, e
justo, e bom (Rm 7:12). Na Lei, nos dez mandamentos, o dia de descanso não é o
domingo, mas, sim, o sétimo dia da semana. Não se trata de um decreto humano, mas
divino: A parte legal consiste dos dez mandamentos que formam a lei fundamental da
teocracia e dos estatutos que nele se baseiam. [9] O doador dos dez mandamentos é
Deus. Moisés é apenas o transmissor ao povo. Não o seu autor. Este é Deus. ”[10]